"Quand une société ne peut pas enseigner, ce n’est point
qu’elle manque actuellement d’un appareil ou d’une
industrie, c’est qu’elle a honte, c’est qu’elle a peur de
s’enseigner elle-même ; pour toute humanité, enseigner,
au fond, c’est enseigner ; une société qui n’enseigne pas,
c’est une société qui ne s’aime pas, qui ne s’estime pas".
Charles PÉGUY (1873-1914), escritor francês.
(1) Não há dúvida nenhuma, que a reflexão filosófica é eminentemente “análise criadora”. De consignar, avisadamente que é necessário partir do todo em filosofia, pois que, o todo nos é outorgado, à primeira vista. A nós compete saber incorporá-lo, assimilando-o proficuamente para além dos saberes sectoriais, especializados que são os nossos. De anotar, outrossim e, ainda, que a interiorização é análise desta totalidade inicial, pois que a análise é a própria démarche da criação filosófica. Aqui, ou seja, neste caso, em concreto, se ultrapassa, aliás, o quadro do ensino da filosofia. Todavia, não vai mais além, a não ser que se consegue contribuir para fazer tomar consciência aos alunos que a filosofia é um todo do qual devem aprender alguns elementos para poder ulteriormente transformar em seu proveito próprio, o que significa ter êxito numa tarefa, quão árdua e, quão difícil. Deste modo et pour cause, se contribuiu, efectivamente, para uma real Educação do Homem.
(2) De anotar, antes de mais, que a experiência concreta da Pedagogia filosófica é sempre uma experiência de frustração para o docente, que mede, concomitantemente, a exigência da Totalidade da Filosofia em si e de per si e o pouco de resultado que obtém dos alunos que permanecem demasiado alheios à profundidade da démarche filosófica. Enfim, de acentuar, todavia, que através da decepção momentânea é uma grande e nobre tarefa que se cumpriu.
(3) Sim, efectivamente, os que ensinam a Filosofia não mensuram a eficácia do seu ensino, assim como, quando reflectimos, não estamos nós próprios habilitados da nossa originalidade por si mesma. Porém, pode-se ter a esperança de aí chegar, na condição, contudo, de não fazer disso um objectivo fundamental, porquanto, na realidade, o único objectivo fundamental é a Verdade, pois que é, a única coisa que nos possa outorgar a força susceptível de superar todos os obstáculos, obstáculos inumeráveis, que, aliás, são inerentes ao Pensamento filosófico e que nada poderá fazer desaparecer.
(4) Todavia, o acto filosófico transporta em si mesmo, a marca da “qualidade principal do Homem”, ou seja, a capacidade de se superar a si próprio. Donde, aliás, as dificuldades particulares da reflexão filosófica abstracta não devem fazer olvidar o valor peculiar e sui generis, de cada ser humano. Demais, é perfeitamente possível que, lá onde o saber não passa, se transmite um ensino profundo, concreta e obviamente, a aprendizagem de valor humano. Sim, no fundo, no fundo, a responsabilidade pessoal constitui matéria para Educação.
(5) Vale a pena, trazer à colação, por razões óbvias, os avisados ensinamentos do psicanalista inglês, Donnald W. WINNICOTT (1896-1971), o mais assisado e esclarecido dos psicólogos da criança do Século XX pretérito, pois que, de feito, soube asseverar claramente que não havia educação que não se fundamente na Ideia de responsabilidade. Opostamente, à tendência que visava em extrair da psicanálise freudiana uma doutrina naturalista que privaria o indivíduo da sua responsabilidade moral, WINNICOTT mostrou, mera e simplesmente que a criança de mama possuía uma responsabilidade relativamente à sua mãe e que a tarefa formadora e orientadora consistia em fazer-lhe tomar consciência da sua responsabilidade com respeito a outrem. Com efeito, suprimir a criança toda responsabilidade, significa, ipso facto, recusar-lhe a dignidade de ser humano.
(6) Donde, ipso facto, a tarefa educativa, edificada sobre esta necessidade de educar a criança no sentimento da sua responsabilidade, consiste precisamente em encontrar o justo equilíbrio entre uma ausência total de responsabilidade e uma responsabilidade demasiado árdua e excessiva. De feito, oprimir a criança com uma responsabilidade à qual não pode fazer face e que não possui as forças morais conducentes a uma assunção efectiva, é completamente outrossim, assaz nocivo para a Educação da sua personalidade como reputá-la inocente de todo. O sentimento da responsabilidade, que faz parte do orgulho humano, torna patológico se ele se transforma em sentimento obsidiante de culpabilidade. Enfim, de consignar, com ênfase, que a função da Educação é sempre pessoal e, eis porque, obviamente, se pode cometer erros à partir de bons princípios, porquanto se trata de adaptar os princípios ao caso particular.
(7) À guisa de remate e conclusão pertinente, temos, então, efectivamente, que uma Educação conseguida é a que terá permitido a todos (individualmente e, não só) encontrar a vocação que lhe é próprio, peculiar e sui generis. Por seu turno, o termo vocação tem sido trivialmente utilizado exclusive no domínio religioso ou profissional. Todavia, pode se entender numa acepção mais lata, como o sentimento de unidade da pessoa através das suas diversas e variegadas actividades. De salientar, no âmbito desta dinâmica humana, que realmente os desejos e as possibilidades de uma criança são infinitamente mais numerosos que o que ela pode realizar. Eis porque, ipso facto, o papel da Educação é de proceder de modo que o que ela realiza, lhe outorga mais satisfação pessoal e que não lhe causa frustração, nem, outrossim, a sensação de sacrifício do que ela não pode realizar.
(8) Existe, efectivamente, por outro, um problema de escolha à raiz do problema da vocação. De salientar, entretanto, que esta escolha é fácil para alguns e difícil para outros. Assim, no âmbito desta dinâmica, a Educação se afigura não necessária aos que não sabem escolher por si próprios, de forma que possam encontrar segurança na escolha que terão feito e, não deixar que os eventos/acontecimentos escolham em seu lugar e, em seu nome. Donde, neste sentido, a vocação se assume como autêntica realização de si próprio pelo sacrifício livremente consentido entre mil possibilidades que se aliena.
(9) Assumidamente, exprimindo, não há dúvida nenhuma, que a Educação é, por conseguinte, esta tarefa filosófica que consiste em se basear na capacidade moral do Homem, na necessidade de despertar e de desenvolver a vontade humana e em discernir o valor particular de cada ser humano. De facto, o Homem é um Ser educável, infinitamente aperfeiçoável, sempre capaz de se superar a si próprio. Eis porque, efectivamente, a Educação não poderia ser a aprendizagem de uma adaptabilidade universal. Aliás, seria fazer do homem um “camaleão velhaco”. Na verdade, o que só a Educação pode ofertar é o rigor inteligível e moral em relação a outrem e, em relação a si próprio. Assim, nesta dinâmica, deve fugir ao escolho de um ideal puramente abstracto, que define um idealismo educativo impotente e incapaz de se confrontar com a realidade das fraquezas humanas, outrossim, porém, do escolho inverso de uma identificação demasiado simplista e, assaz espontânea na criança (como, outrossim, em muitos adultos), valores, aliás, inerentes à pessoa do Educador, ou existentes e presentes, num modelo apreciado e admirado.
Lisboa, 29 Dezembro 2008.
KWAME KONDÉ
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