sexta-feira, 15 de maio de 2009

SARTRE II

Não há dúvida nenhuma, se SARTRE recorreu ao teatro, foi para se fazer compreender por um público, mais vasto que o dos seus leitores. De anotar, que esta funcionalização, quiçá explique, outrossim, os limites e, porque não, as debilidades da dramaturgia sartriana.
Frequentou regularmente, na companhia de Simone de BEAUVOIR, as salas parisienses, estando atento às pesquisas do Cartel, sendo este, por sua vez, Associação conhecida sob o nome de Cartel dos quatro, fundada a 6 de Julho de 1927 por BATY, DULLIN, JOUVET e PITOËF, directores respectivos do Studio dos Campos Elísios, do teatro do Atelier, da Comédia dos Campos Elísios e do teatro dos Mathurins.
Interessante referir, que é, em circunstâncias excepcionais, que compõe o seu opus 1, cujo o texto só recentemente foi encontrado, Bariona ou le fils du tonnere. Na condição de prisioneiro, aproveita a trégua de Natal de 1940 para escrever e encenar, com os seus camaradas de cativeiro, este apólogo bíblico, onde não é difícil divisar um apelo tipicamente sartriano à responsabilidade individual, à liberdade e à resistência à opressão.

Este fio condutor, acima expendido, circulará na trama das peças que vão seguir. Todas serão, aliás, inseparáveis, concomitantemente da actualidade política e da evolução filosófica do seu autor. Eis que, uma sólida amizade com o actor, encenador e teórico francês, Charles DULLIN (1885-1949) o incita a escrever les Mouches (1943). E na esteira e peugada do incontornável escritor e autor dramático francês, Jean GIRAUDOUX (1882-1944) utiliza a mitologia clássica para realizar um discurso, simultaneamente codificado e claro, sobre o seu tempo. O mito de Oreste matricida veste, deste modo, uma denúncia da ideologia pétanista.

Após Huis Clos (1944) que coloca a questão do acto como fundador da liberdade, em termos que são os do existencialismo nascente, SARTRE se retorna ulteriormente, de modo regular, para situações e temas que lhe permitem, cada vez mais, reafirmar a responsabilidade plena do indivíduo num contexto que o rejeita. E, explicitando adequadamente temos então:
---No âmbito do problema da tortura: (Morts sans sépulture, 1946);
---Do Racismo: (La Putain respectueuse, 1946);
---Do fim e dos meios e, outrossim da manipulação dos indivíduos (Les Mains Sales, 1948).
Enfim e, em suma: a questão chave da liberdade individual no seio de uma situação de opressão permite cotejar peças como le Diable et le Bon Dieu (1951), les Séquestrés d’Altona (1959) e les Troyennes, adaptadas de EURIPIDES em 1965 no vigor e pleno calor da guerra do Vietname.

A peça Kean vinda a lume, no ano de 1953, é uma reescrita irónica e cursiva do drama homónimo do autor dramático e romancista francês, Alexandre DUMAS (1802-1870), interpela a identidade problemática do artista nas suas conexões com o poder. Enfim com Nekrassov (1955), SARTRE abordava a comédia satírica. Num à maneira do autor dramático francês, Eugène LABICHE (1815-1888) que não era desprovido de verve, fustigava a imprensa vassala das potências de dinheiro e das suas manipulações duvidosas. Lá ainda, o fio vermelho da liberdade e da identidade problemática do indivíduo. Porém, infelizmente, a peça foi muito mal acolhida. Et pour cause! Hèlas!...
A esta obra dramática, convém acrescentar uma importante recolha de reflexões sobre o teatro, designadamente, Un théâtre de situations (1973). Definiu aí a sua prática teatral em relação às referências chaves, tanto estéticas (o classicismo francês, BRECHT), como filosóficas (HEGEL) ou morais e éticas (o problema do “engagement”).

E, em complemento oportuno e avisado:
O objectivo confessado por SARTRE é de realizar um teatro “austero, moral, mítico e ritual de conspecto”. Todavia, se afigura pertinente e oportuno perguntar se este programa foi plenamente cumprido.
De feito, não obstante, o interesse que devota ao actor, escritor e encenador francês, Antonin ARTAUD (1896-1948) ou ao escritor e autor dramático francês, Jean GENET (1910-1986), o seu teatro é pouco “ritual”. E apenas “mítico” quando reutiliza, na tradição de GIRAUDOUX, COCTEAU, ANOUILH, mitos preexistentes (Les Mouches, Les Troyennes).
De anotar, que conquanto rejeite o realismo psicológico, porém, toda a sua dramaturgia assenta em personagens tradicionalmente acampadas e fortemente caracterizadas. Conserva, por outro, a maioria dos ingredientes do drama “bien fait”: o enigma, o ricochete, a revelação. Aliás, não faz mistério acerca do seu gosto pela potência da retórica. Asseverou, muitas vezes, acerca da sua admiração pelo autor dramático francês, Pierre CORNEILLE (1606-1684). Demais, alguns dos seus discursos, em forma de advocacia (defesa de uma causa) atingiram uma amplidão, um sopro impressionante e uma forte potência de emoção (Franz em les Séquestrés).
Possui, outrossim, o sentido da elipse, da montagem (o “flash-back” das Mains Sales inspirado do cinema e do autor dramático francês, Armand SALACROU – 1899-1989).
Enfim, manuseia, em virtuose, uma violência seca e sarcástica que é quiçá a marca mais característica da sua escrita teatral. Se as suas primeiras peças foram percebidas por um público “bien-pensant”, como provocações, SARTRE não pôde evitar que um consenso mole enrole nas suas peças, as mais serôdias.


Lisboa, 02 Maio de 2009
KWAME KONDÉ

SARTRE I

Perfil bio bibliográfico:


O filósofo, ensaísta, romancista e dramaturgo francês, de nome completo, Jean-Paul SARTRE, nascido na cidade de Paris, no ano de 1905, cidade onde veio a falecer, no ano de 1980 é o principal representante do existencialismo francês e principiou a ser conhecido do grande público logo após a II Guerra Mundial. Todavia, a fama rapidamente alcançada que fez dele o filósofo da moda, contribuiu, por outro lado, para deturpar, muitas vezes, o seu pensamento.
De feito, a sua obra, lida por poucos integralmente, tem sido interpretada, de modos assaz diversos, em particular a partir das suas obras dramáticas ou romanescas, outrossim, dos seus numerosos artigos ou, ainda de uma exposição muito sumária. Estamos a referir de O existencialismo é um humanismo (L’existentialisme est un humanisme, 1946).
Aluno da Escola Normal Superior, assistente de filosofia, SARTRE volta a tomar contacto, na Alemanha, com o pensamento dos seus primeiros mestres, KIERKGAARD, HEIDEGGER e HUSSERL, ao qual o seu ateísmo e a sua originalidade própria imprimem um desenvolvimento original.
Após L’Imaginaire (1940), seu primeiro estudo ensaístico, publica duas obras, L’Être et le Néant (1943), onde está contido o essencial do seu pensamento filosófico e a Critique de la raison dialectique, cujo primeiro tomo, Théorie des ensembles pratiques (1960), estabelece profundas conexões entre existencialismo e marxismo.

De anotar, que, na sequência de HEIDEGGER, que enunciava que “a essência do homem está na sua existência”, SARTRE afirma que “a existência precede a essência”, colocando, deste modo, o homem numa situação de que ele é, em última instância, responsável, sem que qualquer essência limite a sua liberdade. Donde e daí, resulta que en-soi, conjunto das condições do ser e do Mundo, é indeterminado e absurdo. Por outro, o pour-soi, consciência que o ser possui de si próprio, só se pode desenvolver na néantisation, que o distingue do en-soi ao fazer que o ser tome consciência de que ele é o seu próprio nada.
Com efeito, a consciencialização ora enunciada nasce do sentimento do absurdo do Mundo e da angústia que se associa a um poder de decisão ilimitado, que nenhuma ordem pode vir justificar. Deste modo, temos então, que no plano ético e moral, o homem só se pode realizar na escolha inevitável do seu destino, que, de modo algum, se pode reduzir às necessidades do seu desenvolvimento histórico, nem sequer, num mundo em que as liberdades se destroem e suscitam reciprocamente, onde os outros são o inferno, efectuar-se fora das entidades sociais.
No âmbito da prática e da pragmática respectiva, o magistério filosófico de Jean-Paul SARTRE, uma vez superada a ambiguidade das suas primeiras formulações, assume como corolário lógico a noção do compromisso e da acção, de que ele se fez o propagandista, ao tentar defender uma consciência revolucionária que, inicialmente identificada com a ideologia comunista, dela se separou após a revolta húngara, no longínquo ano de 1956. A partir de então, desenvolve a sua acção através de numerosas intervenções individuais.
Assim, no âmbito desta dinâmica e perspectiva, preside, no ano de 1967, ao “Tribunal Russell”, assumindo a partir de 1970 a direcção de publicações de extrema-esquerda cuja ideologia nem sempre controla, através das quais, todavia, procura assumir uma nova missão, que propõe aos intelectuais, ou seja: desaparecerem como tais em proveito das aspirações das massas.

Lisboa, 29 Abril 2009
KWAME KONDÉ

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Do Dia Mundial da Dança 2009

Um Ponto Prévio:

Efectivamente, para principiar, apropriadamente, esta nossa peça ensaística sobre o Dia Mundial da Dança 2009, nada melhor e consentâneo, que tecer umas pertinentes considerações acerca da conexão existente entre a Dança e o Teatro.
De feito, estamos ante duas expressões culturais que se assumem, numa positiva simbiose artística, a ponto de se confundirem esteticamente, de modo, quão feliz e dialecticamente consequente. Demais, não é, por acaso, que o insigne filósofo alemão, Immanuel KANT (1724-1804), os classificou, uma e outra, entre as Artes híbridas, resultando da conexão óbvia de algumas das belas artes entre si.
Destarte, o Teatro e a Dança não constituem, por isso, actualmente, menos duas artes, institucional e socialmente distintas, tanto mais, inquietas, da sua autonomia respectiva que, mesmo, afirmando a sua especificidade, não cessam de se atrair, de se seduzir e de se absorver, uma à outra.

Explorando, a priori, um idêntico utensílio sensorial, o corpo humano, isto é, um corpo falante e, mais precisamente, expressivo e enunciador, herdam necessariamente a ambivalência constitutiva: não unicamente, a forma material visível e energia pulsional, outrossim, porém, o desejo de expressão e poder significante, o nosso corpo tagarela, com efeito, parece, concomitantemente dilacerado por uma distorção permanente e condenado a querer aboli-la ou dissolvê-la por procura louca e vã da sua unidade e da sua identidade respectiva.
Todavia, esta marcha evolutiva paradoxal é apenas outro que torna possível e suscita a intenção de jouer com a imagem e o sentido deste corpo apresentado ao olhar e à consciência de outrem, o que parece, em suma, dever ser denominado acertadamente, por Teatralidade.

De feito, o Teatro e a Dança são semelhantes a rebentos gémeos oriundos de uma idêntica matriz estética (na acepção etimológica do vocábulo), trabalhada para um só e único Desígnio: o do Espectáculo. Demais, como em toda relação gemelar, vivem mais intensamente que toda forma artística simples e homogénea, o jeu espectacular indeterminado do Próprio e do Outro, da identidade e da diferença, ou mais exactamente, da Identidade em e pela Diferença.
Histórica e esteticamente, este jeu dialéctico conheceu e conhece várias fases e várias modalidades respectivas que, bem longe de se suceder cronologicamente e de se anular umas às outras, amiúde, se justapõem e coabitam estranhamente, num mesmo período. Além disso, não apresentam nenhuma simetria rigorosa entre si, na medida em que a interferência ou a influência de uma Arte sobre a outra pode se situar, pelo menos, em dois níveis distintos do processo de criação do espectáculo: quer ao da sua concepção ou da sua inspiração temática, quer ao das suas modalidades de realização (estrutura cenográfica, códigos de técnicos de interpretação, objectos, vestuários, luz). Deste modo, se compreende que se um ballet pode se inspirar de um texto teatral ou de situação dramática e/ou teatralizar sequências motoras, gestuais, mímicas e vocais; pelo contrário, um espectáculo de teatro, só se sujeita, à sedução da dança, como mero jogo cénico, no tratamento do corpo de intérpretes.
Existe, por conseguinte, uma total disparidade na evolução do encontro destas duas artes: cada época deixa, mais ou menos, aparecer várias categorias ou soluções heterogéneas para o problema da determinação da especificidade e da autonomia destas duas artes cujo o estatuto só pode ser polémico ou conflitual.

Enfim e, em suma: a Dança e o Teatro podem se excluir numa espécie de conexão ou de disjunção intencional em função da imagem pervertida que possuem ambas… Por outro, além disso, estudando, atentamente, esta problemática em análise e apreço, no âmbito histórico e sociológico, são tantas as soluções engendradas que, realmente, se nos deparam, atestando a impossibilidade existente, actualmente, de definir e problematizar uma destas artes sem fazer intervir positiva ou negativamente o seu par, coagindo, por consequência, a repensar o seu modo de gestão respectivo da conexão da corporeidade e da linguagem.

Uma vez exarado o Ponto Prévio, vamos ao Tema, propriamente dito, deste nosso Estudo ensaístico, que se prende com o Dia Mundial da Dança, que se comemora, anualmente, na data de 29 de Abril.

(1)

O Dia Internacional da Dança foi instaurado, no Ano de 1982, por iniciativa do Comité de Dança Internacional do Instituto Internacional do Teatro (IIT/UNESCO). A data escolhida para celebrar o Dia é o dia 29 de Abril, data do Aniversário Natalício do bailarino/coreógrafo francês, Jean Georges NOVERRE (1727-1810), historicamente considerado o Criador do ballet moderno.
De consignar, que, anualmente, uma Mensagem Internacional redigida por uma personalidade da Dança, mundialmente conhecida, é difundida, a mais ampla mente possível.

Os objectivos do Dia Internacional da Dança e da Mensagem respectiva, são de reunir o mundo da Dança, prestar homenagem à Dança, celebrar a sua universalidade, superando todas as barreiras políticas, culturais e étnicas, enfim e, em suma, congregar a Humanidade, no seu todo, em prol da amizade e da paz, em torno da Dança, esta Linguagem universal.
Já lá vão 27 anos, bem contados, desde o Primeiro Dia Mundial da Dança, ocorrido no remoto ano de 1982, cuja Mensagem Internacional foi redigida pelo esloveno, Henrik NEUBAUER (n.1929). O que significa, outrossim e, ainda, que já foi produzido um conjunto, cultural e artisticamente significativo de 27 Mensagens Internacionais, da lavra e autoria de uma plêiade de ilustres personalidades do mundo da Dança oriundas de dissemelhantes partes do Planeta.
De referir, por outro, que desde 1995, em nome da Unidade da Dança, o Comité Internacional da Dança, se comprometeu, numa positiva colaboração, com a prestigiada Instituição, que é, efectivamente, a Aliança Mundial da Dança, visando, acima de tudo, celebrar o Dia Internacional da Dança, com a dignidade que o Evento em apreço merece.

(2)
Este Ano da Graça de 2009 coube ao bailarino e coreógrafo, de renome internacional, Akram KHAN a nobre e conspícua missão de redigir a Mensagem Internacional da Dança 2009, para funcionar, consentânea e pertinentemente, no âmbito da Celebração deste egrégio Evento cultural e artístico.


(3)
Eis então a Mensagem Internacional da Dança 2009, na sua versão original, redigida no Idioma francês:

Cette Journée très particulière, la Journée internationale de la Danse, est dédiée au seul langage que chacun de nous sait parler dans ce monde, le langage inhérent à nos corps et à nos âmes, celui de nos ancêtres et de nos enfants.
Cette journée est dédiée à chaque dieu, gourou et ancêtre qui nous aient jamais enseigné et inspiré. À chaque chant, impulsion et instant qui nous aient jamais incités à nous mouvoir. Elle est dédiée au petit enfant qui voudrait pouvoir bouger comme son idole, et la mère qui dit « tu en es déjà capable ».
Cette journée est dédiée à chaque être de toute confession, couleur et culture qui transforme les traditions de son passé en histoires du présent et en rêves pour le futur.
Cette journée est dédiée à la Danse, à ses myriades d’expressions et à son immense capacité d’exprimer, de transformer, d’unir et de réjouir.

- AKRAM KHAN -

Saudações teatrais e coreográficas.
Lisboa, 29 Abril 2009
KWAME KONDÉ

terça-feira, 21 de abril de 2009

Capitalismo

«Le marxisme, par son universalisme et son mondialisme,
fut en quelque sorte la seconde vague de l’entrée de l’Orient
intellectuel dans la modernité. Peut-être le temps est-il
venu d’écrire et de diffuser un «manifeste mondaliste»,
un manifeste des intellectuels mondilistes. Ce manifeste
commencerait ou se terminerait par une phrase
du genre : «Intellectuels de tous les pays, unissez-vous!»
S’il est vrai qu’un spectre – celui du mondialisme – hante
La Planète, il faut créer une internationale des intellectuels.»
Gérard LECLERC, filósofo francês (n-1943), in
LA MONDIALISATION CULTURELLE.


No Verão de 2007, principiava a crise financeira, seduzindo uma crise económica que é apenas a adaptação necessária dos nossos sistemas aos abalos da Biosfera.
Eis porque, unicamente seria pior deixar a oligarquia, perante às dificuldades, recorrer às mezinhas, à uma admoestação bronca, à reconstituição da ordem precedente. Donde, chegou, na verdade, o momento azado de sair, sem hesitação de espécie alguma, definitivamente do Capitalismo, colocando a urgência ecológica e a Justiça social no coeur (cerne) do projecto político, que se quer e se pretende ser quão progressista e quão credível, evidentemente.

Com efeito, a oligarquia prospera, a olhos vistos (de forma clara, manifesta e evidente), adentro de um sistema económico, o capitalismo, que atingiu o seu apogeu respectivo. Importa, deste modo, compreender a singularidade no atinente às suas figuras anteriores: o capitalismo mudou de regímen desde a década de oitenta do século XX pretérito. E, precisando as ideias, temos então, efectivamente, que durante estas quatro décadas em que uma geração inteira cresceu, vendo as desigualdades se desvanecer, a economia se criminalizar, a finança se autonomizar da produção material e o mercantilismo generalizado se estender pelo globo terráqueo todo. Enfim!..

Todavia, pertinente e oportuno, se impõe, consignar (com ênfase) que uma leitura puramente económica deste desenrolamento passaria ao lado do essencial. Com efeito, se o mecanismo cultural do consumo faustoso se encontra no centro/cerne da máquina económica actual, o estado da psicologia colectiva ao qual atingimos, constitui, deste facto um autêntico carburante. De feito, nas quatro décadas em questão, o capitalismo logrou impor total e abertamente o seu modelo individualista de representação e de comportamento, marginalizando as lógicas colectivas que refreavam, até então, o seu galopante avanço. De anotar, outrossim, que a dificuldade peculiar, ipso facto, inerente à geração que cresceu sob este império, é ter necessidade reinventar Solidariedades, quando o condicionamento social lhe repete, incessantemente que o indivíduo é tudo. Donde e daí, para sair desta mecânica devastadora, enformando, em substância, o capitalismo imponente, urge prioritariamente e, acima de tudo, desmontar, desarmando, concomitantemente arquétipos culturais e livrar-se do condicionamento psíquico, óbvia e absolutamente.

Enfim, não há dúvida nenhuma, que o Capitalismo se prepara para encerrar a sua efémera e curta existência que lhe resta. Após dois séculos de um impulso extraordinário, apoiado numa mutação técnica de importância comparável à que viu as sociedades de caçadores descobrir a agricultura, aquando da revolução neolítica, há milenários, a Humanidade vai se desembaraçar desta forma transitória, eficaz, porém, violenta, exuberante, no entanto, de sublinhar quão nevrótica e quão nefando.
E, rematando, de forma dialecticamente consequente, não há dúvida nenhuma, reiterando avisadamente, que podemos sair do capitalismo, dominando eficazmente todos os inevitáveis solavancos que se produzirão. Ou então, no caso contrário, estaríamos condenados a mergulhar na desordem, que uma oligarquia, encrespada e encolhida nos seus privilégios, pela sua cegueira deletéria e o seu egoísmo respectivo, ipso facto, suscitará. Eis o cerne da questão!

Lisboa, 10 Abril 2009
KWAME KONDÉ

sábado, 11 de abril de 2009

Na esteira e peugada da Cultura da Paz Universal:

“Das suas espadas forjarão relhas de arados e foices a partir
das suas lanças. Uma nação não levantará a espada contra
outra nação e não mais se treinarão para a guerra.” (Is 2,4).

Não há dúvida nenhuma, que a Paz não se reduz à uma mera ausência de guerra. A Paz, para além, de ser uma construção política é, antes, outrossim e, ainda, um facto eminentemente Espiritual.
Eis porque, ipso facto, é dever dos políticos (na verdadeira acepção do termo e da expressão) organizar a Paz, ou seja: eliminar as armas de destruição maciça e manter as demais outras em nível baixo, destinar os recursos poupados com o desarmamento ao desenvolvimento consentâneo dos Povos e substituir, cada vez mais e mais, a concorrência desenfreada por uma colaboração autenticamente Positiva.
Por outro, impende sobre todos os Cidadãos Conscientes (sem excepção) o sagrado Dever, de se educarem para a Paz, respeitando o Pluralismo político, social, cultural e religioso, favorecendo o diálogo e a solidariedade, no âmbito e à escala planetária, levar um teor de vida e existência respectiva, quão sóbrio e quão despretensioso, que permita partilhar com os Outros os bens da Terra. Demais, “Não é possível que a paz subsista se, antes disso, a virtude não prosperar”, pois que, efectivamente, não há dúvida nenhuma, que a Paz é preferível à vitória.

Todavia, de consignar, outrossim, que os conflitos jamais acabarão entre os homens. De sublinhar, além disso, que a Paz perfeita só acontecerá para além da história humana. Na verdade, verdade, o Cidadão Consciente sabe que não possui soluções definitivas…Quiçá!...Hélas! No entanto, se empenha, com seriedade total, para lograr uma antecipação profética da Redenção/Vitória: “Bem-aventurados” os verdadeiros construtores da Paz Universal!...

Com efeito, a Cooperação, para ser eficaz e eficiente, não deve se desenvolver, única e exclusivamente, entre os indivíduos e entre os grupos no seio da Sociedade. Sim, efectivamente, deve ser edificada à escala internacional e, evidentemente, porque não, mesmo num âmbito Planetário. As Nações se encontram confrontadas com a Escolha, entre a cooperação e a rivalidade. Não existe argumento convincente que advoga, de molde certo, a favor de uma ou da outra atitude. De sublinhar, que, infelizmente, a rivalidade é uma forma corrente, susceptível, designadamente de conduzir, amiúde à guerra. Porém, a crise ecológica coage, ipso facto, à uma mudança do jogo tradicional da rivalidade das nações, pois que, no fundo, no fundo, não haverá sobremaneira ganhadores ou perdedores, no âmbito do desequilíbrio das regulações da Biosfera (espaço ocupado por todos os seres vivos, animais e vegetais que habitam a Terra), mesmo se o petróleo do Árctico faz sonhar as oligarquias russas e canadianas. Tudo isto, significa, que as nações possuem, por conseguinte e logicamente interesse em cooperar de modo consentâneo e pertinente. Contudo os impactos da crise ecológica seriam mais graves em relação aos países do Sul e, deste modo, os países mais ricos poderiam sentir-se tentados procurar a se adaptar, sozinhos. Enfim e, em suma: Não há dúvida nenhuma, que, no âmbito desta dinâmica, Paz e guerra possuem chances idênticas.

Todavia, o que é certo, até então, o Ambiente suscitou mais e melhor cooperação do que a guerra. Opostamente, ao lugar comum, a rivalidade para o acesso aos recursos hídricos (por exemplo) não conduziu a “guerras da água”, porém, ao contrário, conduziu, sim a cooperações eficazes e eficientes. Neste particular, abundam um cortejo interessante de bons e significativos exemplos.

Donde, efectivamente, a Escolha se encontra aberta e bem aberta, enquanto as dificuldades vão crescendo, ou seja: a competição entre Estados e a guerra, ou a procura do interesse planetário e a cooperação. Deste modo, é possível, aliás, que na desordem ascendente, a tendência criminal capitalista assume o direito sobre as forças de regulação, se apoiando nas numerosas forças armadas de que dispõem, lançando medo entre povos nos quais o fermento propalado pelo espírito novo, não teria suficientemente levedado. De consignar, com ênfase, se não se logra a impor lógicas cooperativas no seio das Sociedades, a evolução autoritária do capitalismo incitá-lo-á à agressividade, no plano internacional.

E, rematando assertivamente, ante às sombrias perspectivas, a Hora dos homens e das mulheres de “coeur”, capazes de fazer luzir as luzes do porvir, soou. Na verdade, os egrégios desafios desta Hora azada, exigem sair, sem hesitação de espécie alguma, da lógica do provento/proveito/lucro máximo e individual para criar economias cooperativas, visando outorgar o devido respeito aos Seres e ao Ambiente natural, ipso facto.

Lisboa, 10 Abril 2009
KWAME KONDÉ

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Um outro Mundo é possível

“Yes, we can. Yes, we can change.
Yes, we can.”
Barack OBAMA (Janeiro 2008)


“Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos
que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo
com as nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.”
Augusto BOAL, In Mensagem Internacional do Dia Mundial 2009


(1) Com efeito, um outro Mundo é possível, indubitavelmente indispensável e, se encontra, aliás, ao nosso alcance. O Capitalismo (com o seu modelo de sociedade edificado sobre o ter, em franco detrimento do Ser), após um reinado de dois séculos, se metamorfoseou, entrando numa fase fatídica. De feito, produz, concomitantemente uma crise económica importante e, outrossim, uma crise ecológica de envergadura e dimensão históricas. Donde e daí, para salvar o Planeta Terra, se impõe urgentemente sair do capitalismo, reconstruindo uma Sociedade em que a economia não é rainha, porém, um instrumento/ferramenta, onde a cooperação deve assumir uma determinada superioridade sobre a competição e, em que, o bem comum deve prevalecer sobre o provento/lucro.
(2) Prosseguindo o nosso Estudo, se afigura pertinente, referir que a Oligarquia (leia-se, grupo de algumas pessoas poderosas, dominando uma porção dos interesses de um país) envida encarniçadamente em desviar a atenção de um público, cada vez mais e mais, consciente do desastre iminente, fazendo-lhe acreditar que a tecnologia (leia-se, outrossim, toda técnica moderna e sofisticada) poderia ultrapassar e superar o obstáculo, em questão. Esta ilusão só visa perpetuar o sistema de dominação em vigor, evidentemente. O que é facto, como ilustra, demais, a demonstração ancorada na realidade objectiva dos nossos dias e, outrossim, animada por numerosas reportagens, o futuro não se encontra (não está, aliás, seguramente) na tecnologia, sim, efectivamente et pour cause, numa nova ordenação das relações sociais.
(3) E, um tanto ou quanto, em jeito de remate assisado, o que fará inclinar a balança, neste caso concreto, é a força e a velocidade com as quais poderemos recuperar a exigência da Solidariedade efectiva. Eis porque, mais que nunca, urge pugnar para a edificação, em bases e alicerces sólidos e robustos, de um novo modelo de Sociedade que privilegia o Ser em detrimento do ter. Eis, efectivamente o autêntico modelo de Sociedade para que vale a pena pugnar, visando legar aos nossos vindouros algo de eminentemente substantivo e credível, por motivos e razões assaz óbvios.

Lisboa, 08 Abril 2009
FRANCISCO FRAGOSO

terça-feira, 7 de abril de 2009

Dia Mundial da Saúde

(1) O DIA MUNDIAL DA SAÚDE se comemora no Dia 7 Abril desde 1950, visando celebrar condignamente a Criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1948. Assim, desde então, anualmente, a OMS aproveita o ensejo para incrementar a consciência sobre a Saúde Mundial. Neste sentido, organiza relevantes Eventos, a nível internacional, regional e local, visando promover, com real eficácia, o Tema escolhido, em matéria de Saúde.
(2) Para este Ano, em curso, de 2009, o Tema escolhido—“Salvar vidas -- Hospitais seguros em situações de emergência”—salienta a importância da necessidade imperiosa de garantir que as Unidades de Saúde, sejam elas Hospitais ou Centros de Saúde possuam resistência necessária para manter o respectivo funcionamento e a Segurança dos Profissionais de Saúde, no desígnio de puderem assegurar um bom atendimento às populações afectas.
(3) De anotar, que, efectivamente, os Profissionais, os Edifícios e os Serviços de Saúde podem, outrossim, se tornar vítimas em situações de emergência, designadamente, acidentes ou demais outras catástrofes (naturais, biológicas, tecnológicas, sociais ou ainda e, outrossim, conflitos armados). Donde e daí, as populações podem ver-se, desta forma, privadas de Serviços de Saúde cruciais para salvar vidas.
(4) Como se pode aperceber, o Tema eleito sublinha a importância que assume proceder, de modo que os Estabelecimentos de Saúde sejam suficientemente sólidos e robustos para resistir a estes perigos e estejam em condições, a despeito de tudo, prestar serviços adequados, concomitantemente as populações directamente atingidas e as Comunidades limítrofes. Já agora, entende-se por Estabelecimentos de Saúde todos os locais apetrechados e capacitados para outorgar Cuidados de Saúde, desde os hospitais especializados e terciários até os Centros de cuidados Primários e os dispensários locais.
(5) Enfim e, em suma: O Dia Mundial da Saúde é o principal acontecimento que permite à OMS dar a conhecer as prioridades sanitárias planetárias. Este ano, a Organização e os seus Parceiros Internacionais sublinharam, com ênfase, quão importante representa investir adequadamente no âmbito das infra-estruturas sanitárias capacitadas para resistir, com eficácia, ao perigo e corresponder, simultaneamente às necessidades imediatas da População. Apelam identicamente, aos responsáveis para a implantação de sistemas que permitem fazer face às situações de urgência, no interior dos Estabelecimentos (por exemplo, nos casos dos incêndios, etc.) e, sem pôr em perigo a continuação e sequência respectiva dos cuidados apropriados necessários, obviamente.
(6) Finalmente: Vale a pena, apresentar umas breves notas acerca do perfil do actual Director Geral da OMS.
a. Trata-se da Dr.ª Margaret CHAN, chinesa de nascimento (e de nacionalidade respectiva), que foi nomeada para o referido cargo pela Assembleia Mundial da Saúde, na data de 9 Novembro 2006. Antes da sua nomeação desempenhava o cargo de Sub Directora Geral, no âmbito das Enfermidades Transmissíveis e era o Representante do Director Geral, encarregado da Gripe Pandémica.
b. De consignar, que antes de ingressar na OMS, foi durante nove anos consecutivos Director da Saúde em Hong Kong (China). Nesta qualidade, foi confrontada, designadamente com a primeira exaltação humana de Gripe aviaria a H5N1, em 1997 e logrou triunfar no combate do Sindroma respiratório agudo severo (SRAS), em Hong Kong, no ano de 2003. Implantou identicamente, novos serviços, visando prevenir as enfermidades e promover uma melhor Saúde.

Lisboa, 7 Abril 2009

Dr. Francisco FRAGOSO
(Médico).