sexta-feira, 15 de maio de 2009

SARTRE I

Perfil bio bibliográfico:


O filósofo, ensaísta, romancista e dramaturgo francês, de nome completo, Jean-Paul SARTRE, nascido na cidade de Paris, no ano de 1905, cidade onde veio a falecer, no ano de 1980 é o principal representante do existencialismo francês e principiou a ser conhecido do grande público logo após a II Guerra Mundial. Todavia, a fama rapidamente alcançada que fez dele o filósofo da moda, contribuiu, por outro lado, para deturpar, muitas vezes, o seu pensamento.
De feito, a sua obra, lida por poucos integralmente, tem sido interpretada, de modos assaz diversos, em particular a partir das suas obras dramáticas ou romanescas, outrossim, dos seus numerosos artigos ou, ainda de uma exposição muito sumária. Estamos a referir de O existencialismo é um humanismo (L’existentialisme est un humanisme, 1946).
Aluno da Escola Normal Superior, assistente de filosofia, SARTRE volta a tomar contacto, na Alemanha, com o pensamento dos seus primeiros mestres, KIERKGAARD, HEIDEGGER e HUSSERL, ao qual o seu ateísmo e a sua originalidade própria imprimem um desenvolvimento original.
Após L’Imaginaire (1940), seu primeiro estudo ensaístico, publica duas obras, L’Être et le Néant (1943), onde está contido o essencial do seu pensamento filosófico e a Critique de la raison dialectique, cujo primeiro tomo, Théorie des ensembles pratiques (1960), estabelece profundas conexões entre existencialismo e marxismo.

De anotar, que, na sequência de HEIDEGGER, que enunciava que “a essência do homem está na sua existência”, SARTRE afirma que “a existência precede a essência”, colocando, deste modo, o homem numa situação de que ele é, em última instância, responsável, sem que qualquer essência limite a sua liberdade. Donde e daí, resulta que en-soi, conjunto das condições do ser e do Mundo, é indeterminado e absurdo. Por outro, o pour-soi, consciência que o ser possui de si próprio, só se pode desenvolver na néantisation, que o distingue do en-soi ao fazer que o ser tome consciência de que ele é o seu próprio nada.
Com efeito, a consciencialização ora enunciada nasce do sentimento do absurdo do Mundo e da angústia que se associa a um poder de decisão ilimitado, que nenhuma ordem pode vir justificar. Deste modo, temos então, que no plano ético e moral, o homem só se pode realizar na escolha inevitável do seu destino, que, de modo algum, se pode reduzir às necessidades do seu desenvolvimento histórico, nem sequer, num mundo em que as liberdades se destroem e suscitam reciprocamente, onde os outros são o inferno, efectuar-se fora das entidades sociais.
No âmbito da prática e da pragmática respectiva, o magistério filosófico de Jean-Paul SARTRE, uma vez superada a ambiguidade das suas primeiras formulações, assume como corolário lógico a noção do compromisso e da acção, de que ele se fez o propagandista, ao tentar defender uma consciência revolucionária que, inicialmente identificada com a ideologia comunista, dela se separou após a revolta húngara, no longínquo ano de 1956. A partir de então, desenvolve a sua acção através de numerosas intervenções individuais.
Assim, no âmbito desta dinâmica e perspectiva, preside, no ano de 1967, ao “Tribunal Russell”, assumindo a partir de 1970 a direcção de publicações de extrema-esquerda cuja ideologia nem sempre controla, através das quais, todavia, procura assumir uma nova missão, que propõe aos intelectuais, ou seja: desaparecerem como tais em proveito das aspirações das massas.

Lisboa, 29 Abril 2009
KWAME KONDÉ

Sem comentários: