quarta-feira, 29 de abril de 2009

Do Dia Mundial da Dança 2009

Um Ponto Prévio:

Efectivamente, para principiar, apropriadamente, esta nossa peça ensaística sobre o Dia Mundial da Dança 2009, nada melhor e consentâneo, que tecer umas pertinentes considerações acerca da conexão existente entre a Dança e o Teatro.
De feito, estamos ante duas expressões culturais que se assumem, numa positiva simbiose artística, a ponto de se confundirem esteticamente, de modo, quão feliz e dialecticamente consequente. Demais, não é, por acaso, que o insigne filósofo alemão, Immanuel KANT (1724-1804), os classificou, uma e outra, entre as Artes híbridas, resultando da conexão óbvia de algumas das belas artes entre si.
Destarte, o Teatro e a Dança não constituem, por isso, actualmente, menos duas artes, institucional e socialmente distintas, tanto mais, inquietas, da sua autonomia respectiva que, mesmo, afirmando a sua especificidade, não cessam de se atrair, de se seduzir e de se absorver, uma à outra.

Explorando, a priori, um idêntico utensílio sensorial, o corpo humano, isto é, um corpo falante e, mais precisamente, expressivo e enunciador, herdam necessariamente a ambivalência constitutiva: não unicamente, a forma material visível e energia pulsional, outrossim, porém, o desejo de expressão e poder significante, o nosso corpo tagarela, com efeito, parece, concomitantemente dilacerado por uma distorção permanente e condenado a querer aboli-la ou dissolvê-la por procura louca e vã da sua unidade e da sua identidade respectiva.
Todavia, esta marcha evolutiva paradoxal é apenas outro que torna possível e suscita a intenção de jouer com a imagem e o sentido deste corpo apresentado ao olhar e à consciência de outrem, o que parece, em suma, dever ser denominado acertadamente, por Teatralidade.

De feito, o Teatro e a Dança são semelhantes a rebentos gémeos oriundos de uma idêntica matriz estética (na acepção etimológica do vocábulo), trabalhada para um só e único Desígnio: o do Espectáculo. Demais, como em toda relação gemelar, vivem mais intensamente que toda forma artística simples e homogénea, o jeu espectacular indeterminado do Próprio e do Outro, da identidade e da diferença, ou mais exactamente, da Identidade em e pela Diferença.
Histórica e esteticamente, este jeu dialéctico conheceu e conhece várias fases e várias modalidades respectivas que, bem longe de se suceder cronologicamente e de se anular umas às outras, amiúde, se justapõem e coabitam estranhamente, num mesmo período. Além disso, não apresentam nenhuma simetria rigorosa entre si, na medida em que a interferência ou a influência de uma Arte sobre a outra pode se situar, pelo menos, em dois níveis distintos do processo de criação do espectáculo: quer ao da sua concepção ou da sua inspiração temática, quer ao das suas modalidades de realização (estrutura cenográfica, códigos de técnicos de interpretação, objectos, vestuários, luz). Deste modo, se compreende que se um ballet pode se inspirar de um texto teatral ou de situação dramática e/ou teatralizar sequências motoras, gestuais, mímicas e vocais; pelo contrário, um espectáculo de teatro, só se sujeita, à sedução da dança, como mero jogo cénico, no tratamento do corpo de intérpretes.
Existe, por conseguinte, uma total disparidade na evolução do encontro destas duas artes: cada época deixa, mais ou menos, aparecer várias categorias ou soluções heterogéneas para o problema da determinação da especificidade e da autonomia destas duas artes cujo o estatuto só pode ser polémico ou conflitual.

Enfim e, em suma: a Dança e o Teatro podem se excluir numa espécie de conexão ou de disjunção intencional em função da imagem pervertida que possuem ambas… Por outro, além disso, estudando, atentamente, esta problemática em análise e apreço, no âmbito histórico e sociológico, são tantas as soluções engendradas que, realmente, se nos deparam, atestando a impossibilidade existente, actualmente, de definir e problematizar uma destas artes sem fazer intervir positiva ou negativamente o seu par, coagindo, por consequência, a repensar o seu modo de gestão respectivo da conexão da corporeidade e da linguagem.

Uma vez exarado o Ponto Prévio, vamos ao Tema, propriamente dito, deste nosso Estudo ensaístico, que se prende com o Dia Mundial da Dança, que se comemora, anualmente, na data de 29 de Abril.

(1)

O Dia Internacional da Dança foi instaurado, no Ano de 1982, por iniciativa do Comité de Dança Internacional do Instituto Internacional do Teatro (IIT/UNESCO). A data escolhida para celebrar o Dia é o dia 29 de Abril, data do Aniversário Natalício do bailarino/coreógrafo francês, Jean Georges NOVERRE (1727-1810), historicamente considerado o Criador do ballet moderno.
De consignar, que, anualmente, uma Mensagem Internacional redigida por uma personalidade da Dança, mundialmente conhecida, é difundida, a mais ampla mente possível.

Os objectivos do Dia Internacional da Dança e da Mensagem respectiva, são de reunir o mundo da Dança, prestar homenagem à Dança, celebrar a sua universalidade, superando todas as barreiras políticas, culturais e étnicas, enfim e, em suma, congregar a Humanidade, no seu todo, em prol da amizade e da paz, em torno da Dança, esta Linguagem universal.
Já lá vão 27 anos, bem contados, desde o Primeiro Dia Mundial da Dança, ocorrido no remoto ano de 1982, cuja Mensagem Internacional foi redigida pelo esloveno, Henrik NEUBAUER (n.1929). O que significa, outrossim e, ainda, que já foi produzido um conjunto, cultural e artisticamente significativo de 27 Mensagens Internacionais, da lavra e autoria de uma plêiade de ilustres personalidades do mundo da Dança oriundas de dissemelhantes partes do Planeta.
De referir, por outro, que desde 1995, em nome da Unidade da Dança, o Comité Internacional da Dança, se comprometeu, numa positiva colaboração, com a prestigiada Instituição, que é, efectivamente, a Aliança Mundial da Dança, visando, acima de tudo, celebrar o Dia Internacional da Dança, com a dignidade que o Evento em apreço merece.

(2)
Este Ano da Graça de 2009 coube ao bailarino e coreógrafo, de renome internacional, Akram KHAN a nobre e conspícua missão de redigir a Mensagem Internacional da Dança 2009, para funcionar, consentânea e pertinentemente, no âmbito da Celebração deste egrégio Evento cultural e artístico.


(3)
Eis então a Mensagem Internacional da Dança 2009, na sua versão original, redigida no Idioma francês:

Cette Journée très particulière, la Journée internationale de la Danse, est dédiée au seul langage que chacun de nous sait parler dans ce monde, le langage inhérent à nos corps et à nos âmes, celui de nos ancêtres et de nos enfants.
Cette journée est dédiée à chaque dieu, gourou et ancêtre qui nous aient jamais enseigné et inspiré. À chaque chant, impulsion et instant qui nous aient jamais incités à nous mouvoir. Elle est dédiée au petit enfant qui voudrait pouvoir bouger comme son idole, et la mère qui dit « tu en es déjà capable ».
Cette journée est dédiée à chaque être de toute confession, couleur et culture qui transforme les traditions de son passé en histoires du présent et en rêves pour le futur.
Cette journée est dédiée à la Danse, à ses myriades d’expressions et à son immense capacité d’exprimer, de transformer, d’unir et de réjouir.

- AKRAM KHAN -

Saudações teatrais e coreográficas.
Lisboa, 29 Abril 2009
KWAME KONDÉ

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