Segundo a Enciclopédia Público nº 7 (2004), Diglossia é um nome feminino pelo qual se denomina uma anormalidade anatómica que consiste na presença de Língua dupla.
Por seu turno, o Dicionário Universal da Língua Portuguesa, na sua oitava (8ª.) Edição (2003), exara o seguinte acerca do lexema/vocábulo, em apreço e estudo:
Diglossia (do grego di(s, dois+ glosa, língua), substantivo feminino é o estado de quem tem Língua bífida.
E, em jeito de breve EXÓRDIO:
A Linguística (Ciência que estuda a Linguagem nos seus dissemelhantes aspectos, fonético, sintáctico, semântico e social, assim como a estrutura, o desenvolvimento, a evolução, a distribuição das línguas e as suas conexões entre si), dizíamos – por sua vez, a Linguística hodierna nasceu da vontade do Linguista Suíço, Ferdinant de Saussure (1857-1913) de elaborar um modelo abstracto, a Língua, a partir dos actos da palavra. Demais, outrossim, no seu Ensino insiste, sobretudo sobre o facto que “la linguistique a pour unique et véritable objet la langue envisagée en elle-même et pour elle-même ».
Ora, enfim e, em suma, efectivamente as Línguas não existem sem as pessoas que as falam. Eis porque, a história de uma língua é, ipso facto, a história dos seus locutores, evidentemente.
(1) Segundo o linguista, oriundo da Letónia, Max WEINRECH (1894-1969) o Bilinguismo é um fenómeno individual. Destarte, é no bilinguismo social que o conceituado linguista inglês,
Charles FERGUSON vai-se atacar, aquando da publicação de um polémico e célebre artigo datado de 1959 (Diglossia, Word, 1959), lança o conceito de diglossia, definindo-a como a coexistência numa mesma Comunidade de duas formas linguísticas que baptiza de variedades, respectivamente, “variedade baixa”(L, de low) e “variedade alta” (H, de high). E, para ilustrá-lo adequadamente apresenta
Quatro (4) exemplos, designadamente:
---As situações arabófonas (dialecto árabe clássico);
---A Grécia (demotiki/katharevousa);
---Haiti (crioulo francês); e
---A parte germanófona da Suíça (Suíça alemã/hochdeutch).
E, outrossim e, ainda, obviamente, consoante o próprio FERGUSON, as Situações de diglossia se caracterizam por um conjunto de traços cujo o elenco respectivo é, grosso modo, o seguinte:
a) Uma distribuição funcional dos usos: utiliza-se a variedade alta na Igreja, nas Letras, nos Discursos, na Universidade, etc., enquanto a variedade baixa se utiliza nas conversações familiares, na Literatura popular, etc.
b) O facto que a variedade alta frui de um prestígio social do qual não desfruta a variedade baixa;
c) O facto que a variedade alta tenha sido utilizada para produzir uma literatura reconhecida e admirada;
d) O facto que a variedade baixa seja adquirida “naturalmente” (é a primeira língua dos locutores) enquanto a variedade alta adquirida na Escola;
e) O facto que a variedade alta seja robustamente estandardizada (Gramáticas, Dicionários, etc.);
f) O facto que a situação de diglossia seja estável, que possa durar vários séculos;
g) O facto que estas duas variedades de uma mesma língua, vinculadas por uma relação genética, tenham uma gramática, um léxico e uma fonologia relativamente divergentes.
(2) Tudo isto lhe permite definir a diglossia como “uma situação linguística relativamente estável na qual, além de formas dialectais da língua (que podem incluir um standart, ou stanards regionais), existe uma variedade sobreposta assaz divergente, altamente codificada (amiúde gramaticalmente mais complexa), veiculando um conjunto de literatura escrita e respeitada (…), que é sobretudo estudada na Educação formal, utilizada na escrita ou num oral formal, todavia não é utilizada para a conversação ordinária em nenhuma parte da Comunidade. (FERGUSON, Diglossia).
(3) Alguns anos mais tarde, o conceituado linguista e cientista social, de prestígio internacional, o Professor Joshua Aaron FISHMAN (n-1926) retoma o tema, ampliando a noção de diglossia (Joshua Fishman, Bilinguism with and without diglossia, diglossia with and without bilinguism, Journal of Social Issues, 1967).
E, então, no âmbito desta sua peculiar dinâmica e perspectiva original, distingue, em primeiro lugar entre o bilinguismo, facto individual, que releva da Psicolinguística e a diglossia, fenómeno social, acrescentando ulteriormente que pode haver diglossia entre mais de dois códigos e, sobretudo, que estes códigos não têm necessariamente de possuir uma origem comum, uma relação genética: Ou seja, que qualquer situação colonial, por exemplo, colocando em presença, uma língua europeia e uma língua africana releva, ipso facto, da diglossia, conquanto não deixasse de anotar, contudo, que permanecem, obviamente, conexões entre bilinguismo e diglossia.
Donde e daí, por conseguinte, segundo, sempre, ainda o próprio FISHMAN, se nos depara quatro situações polares, designadamente.
1 Bilinguismo e Diglossia:
Em que todos os membros da Comunidade conhecem a forma alta e a forma baixa. É o caso do Paraguai (Espanhol e Guarani).
2 Bilinguismo sem Diglossia:
Existe numerosos indivíduos numa Sociedade, porém não se utiliza as formas linguísticas para usos específicos. Seria o caso de situações instáveis, de situações em transição entre uma diglossia e uma outra organização da comunidade linguística.
3 Diglossia sem Bilinguismo:
Em que, numa Comunidade Social existe distribuição funcional dos usos entre duas línguas, entretanto, um grupo só fala a forma alta, enquanto o outro só fala a forma baixa. Nesta situação, em concreto, FISHMAN aponta o caso da Rússia czarista (a nobreza falava francês, o povo o russo).
4 Nem Diglossia nem Bilinguismo:
Neste caso, um tanto ou quanto excepcional, não existe uma única língua sequer. Situação, aliás, imaginável apenas, numa comunidade quão exígua e assaz diminuta.
(4) E, à guisa de Remate, temos então, que:
A noção de Diglossia teve um importante eco na Sociolinguística nascente, antes de dar o flanco a um determinado número de críticas, oriundo, em particular, dos investigadores, trabalhando sobre os crioulos e sobre o Bilinguismo hispânico (sobretudo os sócio-linguistas catalães).
De feito, tanto FERGUSON como FISHMAN tinham tendência em subestimar os conflitos dos quais testemunham as situações de diglossia.
Quando FERGUSON introduzia a estabilidade na definição do fenómeno, deixava entender que estas situações podiam ser harmoniosas e duráveis. Ora a diglossia, pelo contrário, está em perpétua evolução. O caso da Grécia, que, aliás, FERGUSON tomava como um dos seus exemplos paradigmáticos, após trinta anos, modificou-se completamente. Ou seja: A variedade “baixa” de FERGUSON, o grego demótico é actualmente língua oficial e a antiga variante “alta”será, a breve trecho, uma língua morta. Sim, efectivamente, de uma forma mais geral, a história nos mostra que muito frequentemente, o futuro das variedades “baixas” é se tornar variedade “alta”( foi, o caso das línguas romanas, francês, espanhol, italiano, etc., face ao latim).
No fundo, no fundo, tem-se a impressão que o êxito do conceito de diglossia se explica pelo momento histórico em que foi lançado. De feito, na época das Independências africanas, numerosos Países estavam confrontados com uma situação linguística complexa: plurilinguismo, por um lado e predomínio oficial da língua colonial por outro. Outorgando um quadro teórico à esta situação, a diglossia aspirava à apresentá-la como normal, estável, à adular o conflito linguístico do qual testemunhava, a justificar, por assim dizer, que não se muda nada disso (o que foi, aliás, o caso da maioria dos países descolonizados).
Enfim, todavia estas conexões entre ciência e ideologia não constituem coisa rara, ao contrário. Porém, isto é já outra história, que merece uma abordagem consentânea, que pensamos, em tempo oportuno e útil, abordar apropriadamente.
Lisboa, 19 de Novembro de 2008.
KWAME KONDÉ
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