sexta-feira, 15 de maio de 2009

SARTRE II

Não há dúvida nenhuma, se SARTRE recorreu ao teatro, foi para se fazer compreender por um público, mais vasto que o dos seus leitores. De anotar, que esta funcionalização, quiçá explique, outrossim, os limites e, porque não, as debilidades da dramaturgia sartriana.
Frequentou regularmente, na companhia de Simone de BEAUVOIR, as salas parisienses, estando atento às pesquisas do Cartel, sendo este, por sua vez, Associação conhecida sob o nome de Cartel dos quatro, fundada a 6 de Julho de 1927 por BATY, DULLIN, JOUVET e PITOËF, directores respectivos do Studio dos Campos Elísios, do teatro do Atelier, da Comédia dos Campos Elísios e do teatro dos Mathurins.
Interessante referir, que é, em circunstâncias excepcionais, que compõe o seu opus 1, cujo o texto só recentemente foi encontrado, Bariona ou le fils du tonnere. Na condição de prisioneiro, aproveita a trégua de Natal de 1940 para escrever e encenar, com os seus camaradas de cativeiro, este apólogo bíblico, onde não é difícil divisar um apelo tipicamente sartriano à responsabilidade individual, à liberdade e à resistência à opressão.

Este fio condutor, acima expendido, circulará na trama das peças que vão seguir. Todas serão, aliás, inseparáveis, concomitantemente da actualidade política e da evolução filosófica do seu autor. Eis que, uma sólida amizade com o actor, encenador e teórico francês, Charles DULLIN (1885-1949) o incita a escrever les Mouches (1943). E na esteira e peugada do incontornável escritor e autor dramático francês, Jean GIRAUDOUX (1882-1944) utiliza a mitologia clássica para realizar um discurso, simultaneamente codificado e claro, sobre o seu tempo. O mito de Oreste matricida veste, deste modo, uma denúncia da ideologia pétanista.

Após Huis Clos (1944) que coloca a questão do acto como fundador da liberdade, em termos que são os do existencialismo nascente, SARTRE se retorna ulteriormente, de modo regular, para situações e temas que lhe permitem, cada vez mais, reafirmar a responsabilidade plena do indivíduo num contexto que o rejeita. E, explicitando adequadamente temos então:
---No âmbito do problema da tortura: (Morts sans sépulture, 1946);
---Do Racismo: (La Putain respectueuse, 1946);
---Do fim e dos meios e, outrossim da manipulação dos indivíduos (Les Mains Sales, 1948).
Enfim e, em suma: a questão chave da liberdade individual no seio de uma situação de opressão permite cotejar peças como le Diable et le Bon Dieu (1951), les Séquestrés d’Altona (1959) e les Troyennes, adaptadas de EURIPIDES em 1965 no vigor e pleno calor da guerra do Vietname.

A peça Kean vinda a lume, no ano de 1953, é uma reescrita irónica e cursiva do drama homónimo do autor dramático e romancista francês, Alexandre DUMAS (1802-1870), interpela a identidade problemática do artista nas suas conexões com o poder. Enfim com Nekrassov (1955), SARTRE abordava a comédia satírica. Num à maneira do autor dramático francês, Eugène LABICHE (1815-1888) que não era desprovido de verve, fustigava a imprensa vassala das potências de dinheiro e das suas manipulações duvidosas. Lá ainda, o fio vermelho da liberdade e da identidade problemática do indivíduo. Porém, infelizmente, a peça foi muito mal acolhida. Et pour cause! Hèlas!...
A esta obra dramática, convém acrescentar uma importante recolha de reflexões sobre o teatro, designadamente, Un théâtre de situations (1973). Definiu aí a sua prática teatral em relação às referências chaves, tanto estéticas (o classicismo francês, BRECHT), como filosóficas (HEGEL) ou morais e éticas (o problema do “engagement”).

E, em complemento oportuno e avisado:
O objectivo confessado por SARTRE é de realizar um teatro “austero, moral, mítico e ritual de conspecto”. Todavia, se afigura pertinente e oportuno perguntar se este programa foi plenamente cumprido.
De feito, não obstante, o interesse que devota ao actor, escritor e encenador francês, Antonin ARTAUD (1896-1948) ou ao escritor e autor dramático francês, Jean GENET (1910-1986), o seu teatro é pouco “ritual”. E apenas “mítico” quando reutiliza, na tradição de GIRAUDOUX, COCTEAU, ANOUILH, mitos preexistentes (Les Mouches, Les Troyennes).
De anotar, que conquanto rejeite o realismo psicológico, porém, toda a sua dramaturgia assenta em personagens tradicionalmente acampadas e fortemente caracterizadas. Conserva, por outro, a maioria dos ingredientes do drama “bien fait”: o enigma, o ricochete, a revelação. Aliás, não faz mistério acerca do seu gosto pela potência da retórica. Asseverou, muitas vezes, acerca da sua admiração pelo autor dramático francês, Pierre CORNEILLE (1606-1684). Demais, alguns dos seus discursos, em forma de advocacia (defesa de uma causa) atingiram uma amplidão, um sopro impressionante e uma forte potência de emoção (Franz em les Séquestrés).
Possui, outrossim, o sentido da elipse, da montagem (o “flash-back” das Mains Sales inspirado do cinema e do autor dramático francês, Armand SALACROU – 1899-1989).
Enfim, manuseia, em virtuose, uma violência seca e sarcástica que é quiçá a marca mais característica da sua escrita teatral. Se as suas primeiras peças foram percebidas por um público “bien-pensant”, como provocações, SARTRE não pôde evitar que um consenso mole enrole nas suas peças, as mais serôdias.


Lisboa, 02 Maio de 2009
KWAME KONDÉ

SARTRE I

Perfil bio bibliográfico:


O filósofo, ensaísta, romancista e dramaturgo francês, de nome completo, Jean-Paul SARTRE, nascido na cidade de Paris, no ano de 1905, cidade onde veio a falecer, no ano de 1980 é o principal representante do existencialismo francês e principiou a ser conhecido do grande público logo após a II Guerra Mundial. Todavia, a fama rapidamente alcançada que fez dele o filósofo da moda, contribuiu, por outro lado, para deturpar, muitas vezes, o seu pensamento.
De feito, a sua obra, lida por poucos integralmente, tem sido interpretada, de modos assaz diversos, em particular a partir das suas obras dramáticas ou romanescas, outrossim, dos seus numerosos artigos ou, ainda de uma exposição muito sumária. Estamos a referir de O existencialismo é um humanismo (L’existentialisme est un humanisme, 1946).
Aluno da Escola Normal Superior, assistente de filosofia, SARTRE volta a tomar contacto, na Alemanha, com o pensamento dos seus primeiros mestres, KIERKGAARD, HEIDEGGER e HUSSERL, ao qual o seu ateísmo e a sua originalidade própria imprimem um desenvolvimento original.
Após L’Imaginaire (1940), seu primeiro estudo ensaístico, publica duas obras, L’Être et le Néant (1943), onde está contido o essencial do seu pensamento filosófico e a Critique de la raison dialectique, cujo primeiro tomo, Théorie des ensembles pratiques (1960), estabelece profundas conexões entre existencialismo e marxismo.

De anotar, que, na sequência de HEIDEGGER, que enunciava que “a essência do homem está na sua existência”, SARTRE afirma que “a existência precede a essência”, colocando, deste modo, o homem numa situação de que ele é, em última instância, responsável, sem que qualquer essência limite a sua liberdade. Donde e daí, resulta que en-soi, conjunto das condições do ser e do Mundo, é indeterminado e absurdo. Por outro, o pour-soi, consciência que o ser possui de si próprio, só se pode desenvolver na néantisation, que o distingue do en-soi ao fazer que o ser tome consciência de que ele é o seu próprio nada.
Com efeito, a consciencialização ora enunciada nasce do sentimento do absurdo do Mundo e da angústia que se associa a um poder de decisão ilimitado, que nenhuma ordem pode vir justificar. Deste modo, temos então, que no plano ético e moral, o homem só se pode realizar na escolha inevitável do seu destino, que, de modo algum, se pode reduzir às necessidades do seu desenvolvimento histórico, nem sequer, num mundo em que as liberdades se destroem e suscitam reciprocamente, onde os outros são o inferno, efectuar-se fora das entidades sociais.
No âmbito da prática e da pragmática respectiva, o magistério filosófico de Jean-Paul SARTRE, uma vez superada a ambiguidade das suas primeiras formulações, assume como corolário lógico a noção do compromisso e da acção, de que ele se fez o propagandista, ao tentar defender uma consciência revolucionária que, inicialmente identificada com a ideologia comunista, dela se separou após a revolta húngara, no longínquo ano de 1956. A partir de então, desenvolve a sua acção através de numerosas intervenções individuais.
Assim, no âmbito desta dinâmica e perspectiva, preside, no ano de 1967, ao “Tribunal Russell”, assumindo a partir de 1970 a direcção de publicações de extrema-esquerda cuja ideologia nem sempre controla, através das quais, todavia, procura assumir uma nova missão, que propõe aos intelectuais, ou seja: desaparecerem como tais em proveito das aspirações das massas.

Lisboa, 29 Abril 2009
KWAME KONDÉ

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Do Dia Mundial da Dança 2009

Um Ponto Prévio:

Efectivamente, para principiar, apropriadamente, esta nossa peça ensaística sobre o Dia Mundial da Dança 2009, nada melhor e consentâneo, que tecer umas pertinentes considerações acerca da conexão existente entre a Dança e o Teatro.
De feito, estamos ante duas expressões culturais que se assumem, numa positiva simbiose artística, a ponto de se confundirem esteticamente, de modo, quão feliz e dialecticamente consequente. Demais, não é, por acaso, que o insigne filósofo alemão, Immanuel KANT (1724-1804), os classificou, uma e outra, entre as Artes híbridas, resultando da conexão óbvia de algumas das belas artes entre si.
Destarte, o Teatro e a Dança não constituem, por isso, actualmente, menos duas artes, institucional e socialmente distintas, tanto mais, inquietas, da sua autonomia respectiva que, mesmo, afirmando a sua especificidade, não cessam de se atrair, de se seduzir e de se absorver, uma à outra.

Explorando, a priori, um idêntico utensílio sensorial, o corpo humano, isto é, um corpo falante e, mais precisamente, expressivo e enunciador, herdam necessariamente a ambivalência constitutiva: não unicamente, a forma material visível e energia pulsional, outrossim, porém, o desejo de expressão e poder significante, o nosso corpo tagarela, com efeito, parece, concomitantemente dilacerado por uma distorção permanente e condenado a querer aboli-la ou dissolvê-la por procura louca e vã da sua unidade e da sua identidade respectiva.
Todavia, esta marcha evolutiva paradoxal é apenas outro que torna possível e suscita a intenção de jouer com a imagem e o sentido deste corpo apresentado ao olhar e à consciência de outrem, o que parece, em suma, dever ser denominado acertadamente, por Teatralidade.

De feito, o Teatro e a Dança são semelhantes a rebentos gémeos oriundos de uma idêntica matriz estética (na acepção etimológica do vocábulo), trabalhada para um só e único Desígnio: o do Espectáculo. Demais, como em toda relação gemelar, vivem mais intensamente que toda forma artística simples e homogénea, o jeu espectacular indeterminado do Próprio e do Outro, da identidade e da diferença, ou mais exactamente, da Identidade em e pela Diferença.
Histórica e esteticamente, este jeu dialéctico conheceu e conhece várias fases e várias modalidades respectivas que, bem longe de se suceder cronologicamente e de se anular umas às outras, amiúde, se justapõem e coabitam estranhamente, num mesmo período. Além disso, não apresentam nenhuma simetria rigorosa entre si, na medida em que a interferência ou a influência de uma Arte sobre a outra pode se situar, pelo menos, em dois níveis distintos do processo de criação do espectáculo: quer ao da sua concepção ou da sua inspiração temática, quer ao das suas modalidades de realização (estrutura cenográfica, códigos de técnicos de interpretação, objectos, vestuários, luz). Deste modo, se compreende que se um ballet pode se inspirar de um texto teatral ou de situação dramática e/ou teatralizar sequências motoras, gestuais, mímicas e vocais; pelo contrário, um espectáculo de teatro, só se sujeita, à sedução da dança, como mero jogo cénico, no tratamento do corpo de intérpretes.
Existe, por conseguinte, uma total disparidade na evolução do encontro destas duas artes: cada época deixa, mais ou menos, aparecer várias categorias ou soluções heterogéneas para o problema da determinação da especificidade e da autonomia destas duas artes cujo o estatuto só pode ser polémico ou conflitual.

Enfim e, em suma: a Dança e o Teatro podem se excluir numa espécie de conexão ou de disjunção intencional em função da imagem pervertida que possuem ambas… Por outro, além disso, estudando, atentamente, esta problemática em análise e apreço, no âmbito histórico e sociológico, são tantas as soluções engendradas que, realmente, se nos deparam, atestando a impossibilidade existente, actualmente, de definir e problematizar uma destas artes sem fazer intervir positiva ou negativamente o seu par, coagindo, por consequência, a repensar o seu modo de gestão respectivo da conexão da corporeidade e da linguagem.

Uma vez exarado o Ponto Prévio, vamos ao Tema, propriamente dito, deste nosso Estudo ensaístico, que se prende com o Dia Mundial da Dança, que se comemora, anualmente, na data de 29 de Abril.

(1)

O Dia Internacional da Dança foi instaurado, no Ano de 1982, por iniciativa do Comité de Dança Internacional do Instituto Internacional do Teatro (IIT/UNESCO). A data escolhida para celebrar o Dia é o dia 29 de Abril, data do Aniversário Natalício do bailarino/coreógrafo francês, Jean Georges NOVERRE (1727-1810), historicamente considerado o Criador do ballet moderno.
De consignar, que, anualmente, uma Mensagem Internacional redigida por uma personalidade da Dança, mundialmente conhecida, é difundida, a mais ampla mente possível.

Os objectivos do Dia Internacional da Dança e da Mensagem respectiva, são de reunir o mundo da Dança, prestar homenagem à Dança, celebrar a sua universalidade, superando todas as barreiras políticas, culturais e étnicas, enfim e, em suma, congregar a Humanidade, no seu todo, em prol da amizade e da paz, em torno da Dança, esta Linguagem universal.
Já lá vão 27 anos, bem contados, desde o Primeiro Dia Mundial da Dança, ocorrido no remoto ano de 1982, cuja Mensagem Internacional foi redigida pelo esloveno, Henrik NEUBAUER (n.1929). O que significa, outrossim e, ainda, que já foi produzido um conjunto, cultural e artisticamente significativo de 27 Mensagens Internacionais, da lavra e autoria de uma plêiade de ilustres personalidades do mundo da Dança oriundas de dissemelhantes partes do Planeta.
De referir, por outro, que desde 1995, em nome da Unidade da Dança, o Comité Internacional da Dança, se comprometeu, numa positiva colaboração, com a prestigiada Instituição, que é, efectivamente, a Aliança Mundial da Dança, visando, acima de tudo, celebrar o Dia Internacional da Dança, com a dignidade que o Evento em apreço merece.

(2)
Este Ano da Graça de 2009 coube ao bailarino e coreógrafo, de renome internacional, Akram KHAN a nobre e conspícua missão de redigir a Mensagem Internacional da Dança 2009, para funcionar, consentânea e pertinentemente, no âmbito da Celebração deste egrégio Evento cultural e artístico.


(3)
Eis então a Mensagem Internacional da Dança 2009, na sua versão original, redigida no Idioma francês:

Cette Journée très particulière, la Journée internationale de la Danse, est dédiée au seul langage que chacun de nous sait parler dans ce monde, le langage inhérent à nos corps et à nos âmes, celui de nos ancêtres et de nos enfants.
Cette journée est dédiée à chaque dieu, gourou et ancêtre qui nous aient jamais enseigné et inspiré. À chaque chant, impulsion et instant qui nous aient jamais incités à nous mouvoir. Elle est dédiée au petit enfant qui voudrait pouvoir bouger comme son idole, et la mère qui dit « tu en es déjà capable ».
Cette journée est dédiée à chaque être de toute confession, couleur et culture qui transforme les traditions de son passé en histoires du présent et en rêves pour le futur.
Cette journée est dédiée à la Danse, à ses myriades d’expressions et à son immense capacité d’exprimer, de transformer, d’unir et de réjouir.

- AKRAM KHAN -

Saudações teatrais e coreográficas.
Lisboa, 29 Abril 2009
KWAME KONDÉ

terça-feira, 21 de abril de 2009

Capitalismo

«Le marxisme, par son universalisme et son mondialisme,
fut en quelque sorte la seconde vague de l’entrée de l’Orient
intellectuel dans la modernité. Peut-être le temps est-il
venu d’écrire et de diffuser un «manifeste mondaliste»,
un manifeste des intellectuels mondilistes. Ce manifeste
commencerait ou se terminerait par une phrase
du genre : «Intellectuels de tous les pays, unissez-vous!»
S’il est vrai qu’un spectre – celui du mondialisme – hante
La Planète, il faut créer une internationale des intellectuels.»
Gérard LECLERC, filósofo francês (n-1943), in
LA MONDIALISATION CULTURELLE.


No Verão de 2007, principiava a crise financeira, seduzindo uma crise económica que é apenas a adaptação necessária dos nossos sistemas aos abalos da Biosfera.
Eis porque, unicamente seria pior deixar a oligarquia, perante às dificuldades, recorrer às mezinhas, à uma admoestação bronca, à reconstituição da ordem precedente. Donde, chegou, na verdade, o momento azado de sair, sem hesitação de espécie alguma, definitivamente do Capitalismo, colocando a urgência ecológica e a Justiça social no coeur (cerne) do projecto político, que se quer e se pretende ser quão progressista e quão credível, evidentemente.

Com efeito, a oligarquia prospera, a olhos vistos (de forma clara, manifesta e evidente), adentro de um sistema económico, o capitalismo, que atingiu o seu apogeu respectivo. Importa, deste modo, compreender a singularidade no atinente às suas figuras anteriores: o capitalismo mudou de regímen desde a década de oitenta do século XX pretérito. E, precisando as ideias, temos então, efectivamente, que durante estas quatro décadas em que uma geração inteira cresceu, vendo as desigualdades se desvanecer, a economia se criminalizar, a finança se autonomizar da produção material e o mercantilismo generalizado se estender pelo globo terráqueo todo. Enfim!..

Todavia, pertinente e oportuno, se impõe, consignar (com ênfase) que uma leitura puramente económica deste desenrolamento passaria ao lado do essencial. Com efeito, se o mecanismo cultural do consumo faustoso se encontra no centro/cerne da máquina económica actual, o estado da psicologia colectiva ao qual atingimos, constitui, deste facto um autêntico carburante. De feito, nas quatro décadas em questão, o capitalismo logrou impor total e abertamente o seu modelo individualista de representação e de comportamento, marginalizando as lógicas colectivas que refreavam, até então, o seu galopante avanço. De anotar, outrossim, que a dificuldade peculiar, ipso facto, inerente à geração que cresceu sob este império, é ter necessidade reinventar Solidariedades, quando o condicionamento social lhe repete, incessantemente que o indivíduo é tudo. Donde e daí, para sair desta mecânica devastadora, enformando, em substância, o capitalismo imponente, urge prioritariamente e, acima de tudo, desmontar, desarmando, concomitantemente arquétipos culturais e livrar-se do condicionamento psíquico, óbvia e absolutamente.

Enfim, não há dúvida nenhuma, que o Capitalismo se prepara para encerrar a sua efémera e curta existência que lhe resta. Após dois séculos de um impulso extraordinário, apoiado numa mutação técnica de importância comparável à que viu as sociedades de caçadores descobrir a agricultura, aquando da revolução neolítica, há milenários, a Humanidade vai se desembaraçar desta forma transitória, eficaz, porém, violenta, exuberante, no entanto, de sublinhar quão nevrótica e quão nefando.
E, rematando, de forma dialecticamente consequente, não há dúvida nenhuma, reiterando avisadamente, que podemos sair do capitalismo, dominando eficazmente todos os inevitáveis solavancos que se produzirão. Ou então, no caso contrário, estaríamos condenados a mergulhar na desordem, que uma oligarquia, encrespada e encolhida nos seus privilégios, pela sua cegueira deletéria e o seu egoísmo respectivo, ipso facto, suscitará. Eis o cerne da questão!

Lisboa, 10 Abril 2009
KWAME KONDÉ

sábado, 11 de abril de 2009

Na esteira e peugada da Cultura da Paz Universal:

“Das suas espadas forjarão relhas de arados e foices a partir
das suas lanças. Uma nação não levantará a espada contra
outra nação e não mais se treinarão para a guerra.” (Is 2,4).

Não há dúvida nenhuma, que a Paz não se reduz à uma mera ausência de guerra. A Paz, para além, de ser uma construção política é, antes, outrossim e, ainda, um facto eminentemente Espiritual.
Eis porque, ipso facto, é dever dos políticos (na verdadeira acepção do termo e da expressão) organizar a Paz, ou seja: eliminar as armas de destruição maciça e manter as demais outras em nível baixo, destinar os recursos poupados com o desarmamento ao desenvolvimento consentâneo dos Povos e substituir, cada vez mais e mais, a concorrência desenfreada por uma colaboração autenticamente Positiva.
Por outro, impende sobre todos os Cidadãos Conscientes (sem excepção) o sagrado Dever, de se educarem para a Paz, respeitando o Pluralismo político, social, cultural e religioso, favorecendo o diálogo e a solidariedade, no âmbito e à escala planetária, levar um teor de vida e existência respectiva, quão sóbrio e quão despretensioso, que permita partilhar com os Outros os bens da Terra. Demais, “Não é possível que a paz subsista se, antes disso, a virtude não prosperar”, pois que, efectivamente, não há dúvida nenhuma, que a Paz é preferível à vitória.

Todavia, de consignar, outrossim, que os conflitos jamais acabarão entre os homens. De sublinhar, além disso, que a Paz perfeita só acontecerá para além da história humana. Na verdade, verdade, o Cidadão Consciente sabe que não possui soluções definitivas…Quiçá!...Hélas! No entanto, se empenha, com seriedade total, para lograr uma antecipação profética da Redenção/Vitória: “Bem-aventurados” os verdadeiros construtores da Paz Universal!...

Com efeito, a Cooperação, para ser eficaz e eficiente, não deve se desenvolver, única e exclusivamente, entre os indivíduos e entre os grupos no seio da Sociedade. Sim, efectivamente, deve ser edificada à escala internacional e, evidentemente, porque não, mesmo num âmbito Planetário. As Nações se encontram confrontadas com a Escolha, entre a cooperação e a rivalidade. Não existe argumento convincente que advoga, de molde certo, a favor de uma ou da outra atitude. De sublinhar, que, infelizmente, a rivalidade é uma forma corrente, susceptível, designadamente de conduzir, amiúde à guerra. Porém, a crise ecológica coage, ipso facto, à uma mudança do jogo tradicional da rivalidade das nações, pois que, no fundo, no fundo, não haverá sobremaneira ganhadores ou perdedores, no âmbito do desequilíbrio das regulações da Biosfera (espaço ocupado por todos os seres vivos, animais e vegetais que habitam a Terra), mesmo se o petróleo do Árctico faz sonhar as oligarquias russas e canadianas. Tudo isto, significa, que as nações possuem, por conseguinte e logicamente interesse em cooperar de modo consentâneo e pertinente. Contudo os impactos da crise ecológica seriam mais graves em relação aos países do Sul e, deste modo, os países mais ricos poderiam sentir-se tentados procurar a se adaptar, sozinhos. Enfim e, em suma: Não há dúvida nenhuma, que, no âmbito desta dinâmica, Paz e guerra possuem chances idênticas.

Todavia, o que é certo, até então, o Ambiente suscitou mais e melhor cooperação do que a guerra. Opostamente, ao lugar comum, a rivalidade para o acesso aos recursos hídricos (por exemplo) não conduziu a “guerras da água”, porém, ao contrário, conduziu, sim a cooperações eficazes e eficientes. Neste particular, abundam um cortejo interessante de bons e significativos exemplos.

Donde, efectivamente, a Escolha se encontra aberta e bem aberta, enquanto as dificuldades vão crescendo, ou seja: a competição entre Estados e a guerra, ou a procura do interesse planetário e a cooperação. Deste modo, é possível, aliás, que na desordem ascendente, a tendência criminal capitalista assume o direito sobre as forças de regulação, se apoiando nas numerosas forças armadas de que dispõem, lançando medo entre povos nos quais o fermento propalado pelo espírito novo, não teria suficientemente levedado. De consignar, com ênfase, se não se logra a impor lógicas cooperativas no seio das Sociedades, a evolução autoritária do capitalismo incitá-lo-á à agressividade, no plano internacional.

E, rematando assertivamente, ante às sombrias perspectivas, a Hora dos homens e das mulheres de “coeur”, capazes de fazer luzir as luzes do porvir, soou. Na verdade, os egrégios desafios desta Hora azada, exigem sair, sem hesitação de espécie alguma, da lógica do provento/proveito/lucro máximo e individual para criar economias cooperativas, visando outorgar o devido respeito aos Seres e ao Ambiente natural, ipso facto.

Lisboa, 10 Abril 2009
KWAME KONDÉ

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Um outro Mundo é possível

“Yes, we can. Yes, we can change.
Yes, we can.”
Barack OBAMA (Janeiro 2008)


“Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos
que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo
com as nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.”
Augusto BOAL, In Mensagem Internacional do Dia Mundial 2009


(1) Com efeito, um outro Mundo é possível, indubitavelmente indispensável e, se encontra, aliás, ao nosso alcance. O Capitalismo (com o seu modelo de sociedade edificado sobre o ter, em franco detrimento do Ser), após um reinado de dois séculos, se metamorfoseou, entrando numa fase fatídica. De feito, produz, concomitantemente uma crise económica importante e, outrossim, uma crise ecológica de envergadura e dimensão históricas. Donde e daí, para salvar o Planeta Terra, se impõe urgentemente sair do capitalismo, reconstruindo uma Sociedade em que a economia não é rainha, porém, um instrumento/ferramenta, onde a cooperação deve assumir uma determinada superioridade sobre a competição e, em que, o bem comum deve prevalecer sobre o provento/lucro.
(2) Prosseguindo o nosso Estudo, se afigura pertinente, referir que a Oligarquia (leia-se, grupo de algumas pessoas poderosas, dominando uma porção dos interesses de um país) envida encarniçadamente em desviar a atenção de um público, cada vez mais e mais, consciente do desastre iminente, fazendo-lhe acreditar que a tecnologia (leia-se, outrossim, toda técnica moderna e sofisticada) poderia ultrapassar e superar o obstáculo, em questão. Esta ilusão só visa perpetuar o sistema de dominação em vigor, evidentemente. O que é facto, como ilustra, demais, a demonstração ancorada na realidade objectiva dos nossos dias e, outrossim, animada por numerosas reportagens, o futuro não se encontra (não está, aliás, seguramente) na tecnologia, sim, efectivamente et pour cause, numa nova ordenação das relações sociais.
(3) E, um tanto ou quanto, em jeito de remate assisado, o que fará inclinar a balança, neste caso concreto, é a força e a velocidade com as quais poderemos recuperar a exigência da Solidariedade efectiva. Eis porque, mais que nunca, urge pugnar para a edificação, em bases e alicerces sólidos e robustos, de um novo modelo de Sociedade que privilegia o Ser em detrimento do ter. Eis, efectivamente o autêntico modelo de Sociedade para que vale a pena pugnar, visando legar aos nossos vindouros algo de eminentemente substantivo e credível, por motivos e razões assaz óbvios.

Lisboa, 08 Abril 2009
FRANCISCO FRAGOSO

terça-feira, 7 de abril de 2009

Dia Mundial da Saúde

(1) O DIA MUNDIAL DA SAÚDE se comemora no Dia 7 Abril desde 1950, visando celebrar condignamente a Criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1948. Assim, desde então, anualmente, a OMS aproveita o ensejo para incrementar a consciência sobre a Saúde Mundial. Neste sentido, organiza relevantes Eventos, a nível internacional, regional e local, visando promover, com real eficácia, o Tema escolhido, em matéria de Saúde.
(2) Para este Ano, em curso, de 2009, o Tema escolhido—“Salvar vidas -- Hospitais seguros em situações de emergência”—salienta a importância da necessidade imperiosa de garantir que as Unidades de Saúde, sejam elas Hospitais ou Centros de Saúde possuam resistência necessária para manter o respectivo funcionamento e a Segurança dos Profissionais de Saúde, no desígnio de puderem assegurar um bom atendimento às populações afectas.
(3) De anotar, que, efectivamente, os Profissionais, os Edifícios e os Serviços de Saúde podem, outrossim, se tornar vítimas em situações de emergência, designadamente, acidentes ou demais outras catástrofes (naturais, biológicas, tecnológicas, sociais ou ainda e, outrossim, conflitos armados). Donde e daí, as populações podem ver-se, desta forma, privadas de Serviços de Saúde cruciais para salvar vidas.
(4) Como se pode aperceber, o Tema eleito sublinha a importância que assume proceder, de modo que os Estabelecimentos de Saúde sejam suficientemente sólidos e robustos para resistir a estes perigos e estejam em condições, a despeito de tudo, prestar serviços adequados, concomitantemente as populações directamente atingidas e as Comunidades limítrofes. Já agora, entende-se por Estabelecimentos de Saúde todos os locais apetrechados e capacitados para outorgar Cuidados de Saúde, desde os hospitais especializados e terciários até os Centros de cuidados Primários e os dispensários locais.
(5) Enfim e, em suma: O Dia Mundial da Saúde é o principal acontecimento que permite à OMS dar a conhecer as prioridades sanitárias planetárias. Este ano, a Organização e os seus Parceiros Internacionais sublinharam, com ênfase, quão importante representa investir adequadamente no âmbito das infra-estruturas sanitárias capacitadas para resistir, com eficácia, ao perigo e corresponder, simultaneamente às necessidades imediatas da População. Apelam identicamente, aos responsáveis para a implantação de sistemas que permitem fazer face às situações de urgência, no interior dos Estabelecimentos (por exemplo, nos casos dos incêndios, etc.) e, sem pôr em perigo a continuação e sequência respectiva dos cuidados apropriados necessários, obviamente.
(6) Finalmente: Vale a pena, apresentar umas breves notas acerca do perfil do actual Director Geral da OMS.
a. Trata-se da Dr.ª Margaret CHAN, chinesa de nascimento (e de nacionalidade respectiva), que foi nomeada para o referido cargo pela Assembleia Mundial da Saúde, na data de 9 Novembro 2006. Antes da sua nomeação desempenhava o cargo de Sub Directora Geral, no âmbito das Enfermidades Transmissíveis e era o Representante do Director Geral, encarregado da Gripe Pandémica.
b. De consignar, que antes de ingressar na OMS, foi durante nove anos consecutivos Director da Saúde em Hong Kong (China). Nesta qualidade, foi confrontada, designadamente com a primeira exaltação humana de Gripe aviaria a H5N1, em 1997 e logrou triunfar no combate do Sindroma respiratório agudo severo (SRAS), em Hong Kong, no ano de 2003. Implantou identicamente, novos serviços, visando prevenir as enfermidades e promover uma melhor Saúde.

Lisboa, 7 Abril 2009

Dr. Francisco FRAGOSO
(Médico).

quinta-feira, 2 de abril de 2009

CANTO para a nossa MUSA de Sempre

Na demanda de uma Arte “Poética” inovadora:

“Sem forma revolucionária não há
Arte revolucionária.”
VLADIMIR MAIOKÓVSKI
“Eu não forneço nenhuma regra para que
uma pessoa se torne poeta e escreva versos.
E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta
Justamente o homem que cria estas regras poéticas.”
VLADIMIR MAIAKÓVSKI

Et pour cause, outrossim e, ainda,
O Mestre de sempre,
VLADIMIR MAIAKÓSVIKI:
“O Teatro deve ser um espectáculo detonante.”


As Terras, abruptas e desérticas, ávidas áridas…
Na sua quietude, beata
Vorazmente bebem no mamilo da Aurora
Velo doce e Negro!
Não parecem se subtrair do ónus do Sono.
Circundadas pelo Silêncio
Murmúrios
Leite matinal
A quem prestam a maior atenção?
A quem contemplam?
Sim, quem aqui habita: as coisas
O ar e a luz?
Oh my God!
Que homem (ou mulher) vai inventar
A primeira chaga?
E a eclosão dos lábios inertes?
Paisagem solidificada numa palavra!
Paysage solidifié sur une parole!
Solidified landscape in a word!
Bista djondjodu n’un palabra!

Pela Letra construímos (construída) a sílaba humana
E da sílaba humana, edificando (edificada)
A palavra/vocábulo/lexema
E da Palavra surde, ipso facto, a Linguagem humana!
Este espelho da alma
Meio de Comunicação com outrem
Elemento de sociabilidade,
Sinal de reconhecimento e de
Pertença à uma Comunidade
A um Grupo e
A uma Cultura…


Não me falem (não nos falem) de Cicatriz. Este
Cerne/Imo azul vermelho
Oculta a minha viagem
(a nossa viagem).
Sonego (sonegamos) a treva arvorada na linha de Horizonte.
Abro (abrimos) o Mundo, sub-repticiamente exauro (exauramos) a
Ordem.
Pois que, já só haverá ensejo/desígnio para
O intrépido Verão, evidentemente.

Ai o élan que me transporta
(nos transporta)
Me conduzirá (nos conduzirá)
Até ti, nossa Musa de sempre
Diva viva, feita de virtude
E, assim, afirmo
(afirmamos)
Que mesmo assim, neste Momento Azado
Quiçá transviado, pois que não será o término da Viagem!

Uma missa de Solidão,
Se enredando de sigilos
Uma etapa remota, longe do meu (do nosso) Império
Da Terra e de inocência.
Oh! Os teus olhos verão!
Tes yeux verront!
Your eyes will see!
Bus odjus t’odja dretu!


Mar e Céu trespassados por uma prega de areia e Saibro!
Mer et Ciel coupés par un pli de sable !
Sea and Sky cut by a sand fold!
Mar y Seu satadjadu pur un préga di rea!

Ó egrégia Verdade, que iluminas o meu Coração,
Concede-me (concede-nos) a Graça de que não
Sejam as trevas a falar-me (a falar-nos!)...
A minha vista (a nossa vista) está obscurecida…,
Porém, consegui (conseguimos) lembrar de Ti.
Ouvi (ouvimos) a tua Voz…
Que me gritava (nos gritava) para regressar.
Escutei-a (escutamo-la) com relutância
Por causa dos homens desagradados.
Todavia, eis me (eis nos) de novo de volta,
Sequioso e desejoso da Tua Fonte.
E que ninguém me impeça (nos impeça) de aproximar dela.
Pois dela beberei (beberemos) e viverei (viveremos!).


Eis porque, acreditar é abrir-se, sair de si próprio,
Confiar, obedecer, arriscar, pôr-se
No percurso existencial em direcção
Às coisas “que não se vêem”: Eis a eloquente
Assunção da positiva Postura
De autêntico Acolhimento activo
Conducente à introdução no Mistério da Vida Plena…

E, para principiar para além do Verbo, eis então:
O prazer das praias
O banquete das ancas
A reemergência das águas
A audácia dos seios virgens
O périplo da Luz (da espádua ao ventre)
As coxas belamente singulares, enfim…
Até aos seixos da praia, polidos pelos pés humanos. Sim, efectivamente
Todo o Mar infinito,
Na sua vastidão, tranquilo
Se derrama entre estas margens inóspitas.

Assim, destarte,
Os meus Lábios (os nossos lábios) empedernirão…
Boca seca!
E, por seu turno, o meu Corpo
O nosso Corpo sucumbirá (desfeito em pó),
Nos arcanos da Matriz primordial da Terra.
E só me restará
(nos restarão)
Estas conquistas de delírio que aniquilam.

Oh! O teu (o nosso) Silêncio!
Oh! Ton (notre) Silence!
Oh! Your (our) Silence!
Bu (nos) Silensu!...Silensu!...Silensu!...


(A Extensão bárbara
A Intermitência de um Dia.
Uma Profusão de Tempo arredado de Usufruto).
Entretanto,
Algures, um tudo-nada de Sombra, como
Um Trejeito (cuidado à parte) se enternece…
Enternecendo plenamente.
Oh my God! A Vida, na sua essência primordial aconteceu, acontecendo!

Lisboa, 02 Abril 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual Internacionalista/Cidadão do Mundo).


quarta-feira, 1 de abril de 2009

MAIS UM POEMA CONSTRUÍDO NO MOMENTO AZADO:

I

Eis sim, efectivamente,
Meus irmãos, companheiros e peregrinos do "IMO da PEDRA",
Eis sim, o autêntico Oráculo
Da Glória e da Liberdade:

Abrir, de par em par,
As prisões injustas,
Desatar os nós do jugo ancestral
Deixar ir livres os oprimidos
Quebrar toda a espécie de jugo;
Repartir o nosso Pão com o esfomeado
Dar abrigo aos infelizes sem asilo
Vestir o desnudo e não desprezar o nosso irmão.
Então, sim, efectivamente:
A nossa Luz surgirá como a aurora
E as nossas feridas não tardarão a cicatrizar;
A nossa Justiça irá na nossa vanguarda, segura
E na retaguarda a Glória da Liberdade, luzente se arvora no
Horizonte…
E, então, destarte, a
Egrégia Glória, em alto e bom som
Prontamente assevera:
“Eis me aqui, Irmãos!”…Avante!...Avante!...Avante!...
Companheiros, Peregrinos da caminhada da Existência…


II


Oh! Natureza Mãe,
Tu que, das fecundas entranhas,
Destes a todos os Povos do Mundo
Uma única origem
E, neste Momento azado, quereis reuni-los
Numa só Família,
Concedei que os Homens se reconhecem irmãos
E, na solidariedade
Promovam o desenvolvimento de cada povo,
Para que, com os recursos que dispusestes, e,
Quão ubíqua omnipresente, no IMO da tua douta sapiência,
Disponibilizastes
Para toda a Humanidade
E se afirmem os Direitos de cada Homem
E a Comunidade humana possa conhecer uma
Era de Igualdade, de Progresso e de Paz.

E,
Agora tu, Rai di Tabanka,
Rei dos reis
Rei dos Homens
Rei genuíno do Planeta,
Todo,
Nesta tua hora, nesta nossa hora, na Hora de todas as Verdades
Não deixes, ao abandono, o teu Povo
Nem desprezes, outrossim a sua Vetusta Herança.

Deste modo, destarte,
Então, efectivamente:
A Sentença retornará a ser equitativa

E Todos de coração Recto, venerá-la-ão…

Pois sim, Irmãos, Peregrinos
É a Hora certa,

A Hora da Liberdade Plena!

Lisboa, 23 Outubro 2008
KWAME KONDÉ(Intelectual Internacionalista/Cidadão do Mundo)

sábado, 28 de março de 2009

Capitalismo

Cap.it.al.ism:
An economic system in which a country’s businesses and industry are controlled and run for profit by private owners rather than by the Government.
Cap.it.al.ist:
A person who supports capitalism;
A person who owns or controls a lot of wealth and uses it to produce more wealth.

Capitalismo:
Etimologia: Capital+ismo:
a) Sistema económico baseado na legitimidade dos bens privados e na irrestrita liberdade de comércio e indústria, com o principal objectivo de adquirir lucro.
b) Sistema social em que o capital está em mãos de empresas privadas ou indivíduos que contratam mão-de-obra em troca de salário.
Capitalista:
Etimologia: Capital+ista.
Diz-se do indivíduo que possui capital e vive da sua renda.
Diz-se, outrossim de ou sócio que é responsável pela parte financeira da organização de uma empresa.

Capitalisme:
1) Système économique dans lequel les moyens de production appartiennent à des propriétaires particuliers.
2) Dans le vocabulaire marxiste, régime économique, politique et social poursuivant la recherche systématique du profit grâce à l’exploration des travailleurs par les propriétaires des moyens de production et d’échange.
Capitaliste :
Celui qui possède les moyens de production ;
Celui qui est favorable au régime capitaliste.
Néo-capitalisme :
Forme moderne du capitalisme, liant les finalités sociales à la recherche du profit et admettant dans certains cas l’intervention de l’État.

Desenvolvimento do Tema :

No plano etimológico, o lexema Capital é oriundo do latim “capitalis”, de “caput”, a cabeça, na acepção posse de animais (“gado de parceria”, “gado de meias”). Por seu turno, a sua acepção no âmbito económico surgiu no século XVI.
E, na sua essência primordial, a expressão Capitalismo assume como o regime económico e jurídico de uma sociedade na qual os meios de produção não pertencem aos que os utilizam.
Grosso modo, o Capitalismo se encontra edificado sobre:
A empresa privada;
A liberdade das permutas;
A procura de provento/lucro reputado como um ressarcimento pelo risco a que se expõe;
A acumulação do capital.
De anotar que, na prática, cada uma das características, acima enunciadas, pode-se encontrar, mais ou menos acentuada, outorgando à noção de capitalismo uma enorme diversidade das suas formas respectivas.


E explicitando, de modo consentâneo e, outrossim por imperativo pedagógico, temos então:
---O Capitalismo hodierno, que se caracteriza por uma distribuição do capital entre vários, até mesmo, uma autêntica “multidão”, de proprietários, accionistas, etc., procura, outrossim, mais segurança e um certo poder, visando influenciar as decisões políticas. Deste modo, o lucro realizado pela empresa tem tendência a se repartir muito mais entre o Estado e a própria empresa (auto-financiamento que incrementa, não obstante, o seu valor) em detrimento da distribuição de mais-valias imediatas (leia-se os dividendos) aos accionistas.
---Por sua vez, para o Marxismo, o capitalismo é um sistema político, económico e social cujo princípio fundamental consiste na procura sistemática de mais-valias obtidas graças à exploração dos trabalhadores pelos proprietários dos meios de produção e de distribuição. O seu fim é transformar, a maior parte possível, destas mais-valias em capital suplementar que engendrará, por seu turno, mais mais-valias.

Enfim e, em suma: para o capitalismo, tudo tende a tornar mercadoria e, em primeiro lugar, o próprio homem (a Saúde, o Sangue, os Órgãos humanos, obviamente, a procriação…), a Educação, o Conhecimento, a Investigação científica, a Cultura e as Obras artísticas…

Lisboa, 27 Março 2009
KWAME KONDÉ

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dia 27 de Março de 2009: Dia Mundial do Teatro:

(1) De feito, na verdade, foi na Cidade de Viena (Áustria), no remoto ano da Graça de 1961, que, no decurso do 9º Congresso Mundial do Instituto Internacional do Teatro (IIT), por proposta do finlandês Kaarlo Arvi KIVIMAA (n-1904), feita em nome do Centro Finlandês, foi, então, instituído o DIA MUNDIAL DO TEATRO. E, já lá vão precisamente, 48 anos e, no âmbito do Calendário dos Dias Mundiais do Teatro este de 2009 é o QUADRAGÉSIMO SÉTIMO.
(2) Deste modo, desde o ano de 1962, anualmente, a 27 de Março (data da abertura da estação 1962 do Teatro das Nações, em Paris) o Dia Mundial do Teatro é comemorado pelos Centros Nacionais do IIT existentes presentemente, numa centena de Países do Mundo, assim como, por demais outros membros da Comunidade Teatral Internacional.

(3) Por seu turno, o Instituto Internacional do Teatro (IIT), criado em 1948, numa louvável e histórica iniciativa da UNESCO e de Personalidades ilustres no domínio do Teatro é, com efeito, assumidamente, a mais importante organização não governamental, no âmbito das Artes da Cena, possuindo robustas conexões formais (relações de consulta e de associação) junto da UNESCO. O IIT procura "à encourager les échanges internationaux dans le domaine de la connaissance et de la pratique des Arts de la Scène, stimuler la création et élargir la coopération entre les gens de Théâtre, sensibiliser l’opinion publique à la prise en considération de la création artistique dans le domaine du Développement, approfondir la compréhension mutuelle afin de participer au renforcement de la Paix et de l’Amitié entre les peuples, s’associer à la défense des idéaux et des buts définis par l’UNESCO".

(4) De anotar, ainda que as manifestações que assinalam o DIA MUNDIAL DO TEATRO permitem concretizar os objectivos, acima enunciados. Eis porque, anualmente, uma Personalidade do mundo do Teatro ou uma outra individualidade conhecida pelas suas qualidades de “coeur” e de espírito é convidada a partilhar as suas reflexões acerca do tema do Teatro e da Paz entre os povos. Esta Mensagem denominada MENSAGEM INTERNACIONAL é traduzida numa vintena de idiomas. E, outrossim, será lida perante dezenas de milhares de espectadores antes da representação da noite nos teatros, pelo Mundo inteiro, impresso em centenas de quotidianos e difundida pela rádio e televisão nos cinco (5) Continentes. Vem, mesmo a propósito e, um tanto ou quanto, a talhe de foice, elucidar que a primeira Mensagem Internacional produzida, para os devidos efeitos, no longínquo ano de 1962, foi da autoria e lavra do insigne poeta, romancista, dramaturgo, coreógrafo, pintor e cineasta francês, Jean COCTEAU (1889-1963).

(5) Enfim e, em suma: O Teatro congrega, de modo dialecticamente eloquente e, por sua vez, o DIA MUNDIAL DO TEATRO é a celebração efectiva desta egrégia vontade. Constitui, outrossim e, ainda, um excelente ensejo e uma oportunidade respectiva, para os Artistas da Cena partilhar com o seu público uma determinada visão da sua Arte e a forma, por meio da qual esta Arte pode contribuir para a compreensão humana e para a Paz entre os povos. Finalmente, de consignar, que à difusão mundial da MENSAGEM INTERNACIONAL, se vem vincular numerosos eventos, desde manifestação, mais íntima, até à Grande Celebração Popular.

Posto tudo isto, vamos então, apresentar a MENSAGEM INTERNACIONAL redigida especialmente para o Dia Mundial do Teatro deste Ano de 2009, em curso, da autoria e lavra de Augusto BOAL, director teatral brasileiro, de renome mundial e inventor do “Teatro do Oprimido”.
Apresentaremos, nesta nossa “posta”, a dita Mensagem em duas versões, designadamente, no Idioma brasileiro (a versão original) e em inglês.

(I)

Teatro não pode ser apenas um evento – é forma de vida! Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto das ideias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!

Não só casamentos e funerais são espectáculos, mas também os rituais cotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião diplomática – tudo é teatro.

Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espectáculos da vida diária onde os atores são os próprios espectadores, o palco é a plateia e a plateia, o palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver, tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida cotidiana.

Verdade escondida

Em Setembro do ano passado fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver em um mundo seguro, apesar das guerras, genocídios, hecatombes e torturas que aconteciam, sim, mas longe de nós, em países distantes e selvagens, nós vivíamos seguros com nosso dinheiro guardado em um banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da bolsa quando fomos informados de que esse dinheiro não existia, era virtual, feia ficção de alguns economistas que não eram ficção, nem eram seguros, nem respeitáveis. Tudo não passava de mau teatro com triste enredo, onde poucos ganhavam muito e muitos perdiam tudo. Políticos dos países ricos fecharam-se em reuniões secretas e de lá saíram com soluções mágicas. Nós, vítimas de suas decisões, continuamos espectadores sentados na última fila das galerias.

Vinte anos atrás, eu dirigi Fedra de Racine, no Rio de Janeiro. O cenário era pobre: no chão, peles de vaca; em volta, bambus. Antes de começar o espectáculo, eu dizia aos meus atores: “Agora acabou a ficção que fazemos no dia-a-dia. Quando cruzarem esses bambus, lá no palco, nenhum de vocês tem o direito de mentir. Teatro é a Verdade Escondida”.

Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, géneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com as nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.

Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!


Augusto Boal

(II)
World Theatre Day Message
Augusto Boal-Message 2009:

All human societies are “spectacular” in their daily life and produce “spectacles” at special moments. They are “spectacular” as a form of social organization and produce “spectacles” like the one you have come to see.

Even if one is unaware of it, human relationships are structured in a theatrical way. The use of space, body language, choice of words and voice modulation, the confrontation of ideas and passions, everything that we demonstrate on the stage, we live in our lives.
We are theatre!

Weddings and funerals are “spectacles”, but so, also, are daily rituals so familiar that are not conscious of this. Occasions of pomp and circumstance, but also the morning coffee, the exchanged good-mornings, timid love and storms of passion, a senate session or a diplomatic meeting – all is theatre.

One of main functions of our art is to make people sensitive to the “spectacles” of daily life in witch the actors are their own spectators, performances in witch the stage and the stalls coincide. We are all artists. By doing theatre, we learn to see what is obvious but what we usually can’t see because we are only used to looking at it. What is familiar to us becomes unseen: doing theatre throws light on the stage of daily life.

Last September, we were surprised by a theatrical revelation: we, who thought that we were living in a safe world, despite wars, genocide, slaughter and torture which certainly exist, but far from us in remote and wild places. We, who were living in security with our money invested in some respectable bank or in some honest trader’s hands in the stock exchange were told that this money did not exist, that it was virtual, a fictitious invention by some economists who were not fictitious at all and neither reliable nor respectable. Everything was just bad theatre, a dark plot in which a few people won a lot and many people lost all. Some politicians from rich countries held secret meetings in which they found some magic solutions. And we, the victims of their decisions, have remained spectators in the last row of the balcony.

Twenty years ago, I staged Racine’s Phèdre in Rio de Janeiro. The stage setting was poor: cow skins on the ground, bamboos around. Before each presentation, I used to say my actors: “The fiction we created day by day is over. When you cross those bamboos, none of you will have the right to lie. Theatre is the Hidden Truth”.

When we look beyond appearances, we see oppressors and oppressed people, in all societies, ethnic groups, genders, social classes and casts; we see an unfair and cruel world. We have to create another world because we know it is possible. But it is up to us to build this other world with our hands and by acting on the stage and in our own life.

Participate in the “spectacle” which is about to begin and once you are back home, with your friends act your own plays and look at what which is obvious.
You were never able to see: that which theatre is not just event; it is a way of life! We are all actors: being a citizen is not living in society, it is changing it.

Augusto Boal


Lisboa, 27 Março 2009.
KWAME KONDÉ
(Intelectual Internacionalista/ Cidadão do Mundo)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Manipulação Mental

"La manipulation mentale est inhérente à tout système
totalitaire. Le nazisme comme le stalinisme
furent de formidables manipulations.
Les sectes adoptent ces mêmes méthodes avec
Une diversité de moyens et d’applications"

Bernard Filaire – Les sectes – Flammarion – 1994

Não há dúvida nenhuma, que é, efectivamente, nas seitas que se encontra a maior diversidade na utilização dos processos de manipulação mental, denominada, por vezes, outrossim “lavagem de cérebro”. De feito, pela utilização de técnicas sofisticadas de manipulação, a Seita (Agrupamento religioso fechado sobre si próprio, criado em oposição às ideias e práticas comuns religiosas dominantes), após ter conduzido o adepto a dar crédito que com ela (melhor dito, fazendo-o acreditar bovinamente mesmo) terá as soluções dos seus problemas, conseguindo, deste modo, doutriná-lo e colocá-lo sob a sua dependência e controlar os seus pensamentos.
Com efeito, a expressão “lavagem de cérebro” é imprópria, porquanto esta noção, em apreço, oriunda das torturas sofridas por prisioneiros americanos durante a guerra da Coreia, não corresponde ao que se verifica e se assiste no caso dos adeptos das seitas. De feito, os antigos membros de seitas insistem sobre o facto que se encontram comprometidos com o seu “livre arbítrio”. Os seus testemunhos mostram que não foram torturados, todavia foram seduzidos por promessas de felicidade para as quais consentiram em pagar um preço assaz robusto e, quão chorudo.

De consignar, que não nos move aqui a ideia de colocar em causa a liberdade individual de prática religiosa e de crenças, por mais confusas sejam elas. Não é, outrossim, por causa dos seus dogmas que as seitas são criticáveis, sim, efectivamente pelos seus desvios de rumo e os comportamentos nefandos que podem engendrar.

De salientar assertivamente que a manipulação mental se caracteriza antes pelo carácter “insidioso” da armadilha que se aferrolha sobre o adepto. Deve-se, deste modo, antes considerar este último como vítima sem ele saber por causa do décalage entre o em quê acredita se comprometer e o que será a realidade do seu comprometimento. E, sob a capa de boas intenções, a manipulação mental constitui um temível meio de influência e de controlo pela utilização de procedimentos sobremodo subtis que, subtraídos dos seus objectivos iniciais, envidam em exercer uma influência quão deletéria e ulteriormente convencer no desígnio de alienar a liberdade da vítima e deste facto extrair proveito e benefício, obviamente.
Porém, vendo bem, a manipulação mental só funciona se permanece completamente dissimulada, para que a vítima seja persuadida, de molde a poder dispor livremente dos seus pensamentos e das suas decisões respectivas. Agindo, deste modo, os que implantam a manipulação mental logram adquirir domínio psíquico e físico, poder, proventos e exploração financeira das suas vítimas.
Eis porque, práticas conducentes ao estado deletério de colocação sob influência podem conduzir a alterações no âmbito da formação do pensamento e, outrossim e ainda, à uma perturbação das necessidades fisiológicas e uma desestabilização psicológica. E, o corolário lógico de toda esta acção assaz nefanda é um incremento da dependência e o isolamento num sistema de crenças.

E, rematando, de molde dialecticamente consequente, especialmente nesta Hora de Todas as Verdades, sobre todos os Cidadãos conscientes impende o Dever de denunciar, de modo, o mais veemente possível, todos estes danos e prejuízos respectivos à dignidade e à integridade humana, visto que tais práticas denega ao indivíduo a sua liberdade e o seu direito em dispor de si próprio.

Lisboa, 15 Março 2009
KWAME KONDÉ (Intelectual internacionalista/Cidadão do Mundo)

domingo, 8 de março de 2009

Reacção à Mensagem de Natal do Sr. Primeiro-Ministro de Cabo Verde


Estou de acordo com o Primeiro-Ministro em relação aos seus anseios relativos à cultura:

“Queremos que todos os cabo-verdianos, juntos com o Governo, trabalhem para que a cultura, que é a riqueza de nossas almas, seja também a riqueza desta nação. Queremos ter, por exemplo, um festival internacional de teatro, uma feira internacional de música, uma feira internacional de cinema ou de vídeo amador, queremos ter ainda uma feira internacional de artesanato…” cf: in: Mensagem de Natal, NEVES José Maria, 2008.

Mas para se conseguir realizar todos estes desejos, é preciso um trabalho de base, onde a formação académica se encontre na sua génese. É necessário que haja formações, é imprescindível que haja uma consciência artística (a cultura como acção de cultivar o saber). Não somente como meio de entreter outrem, como diz o Primeiro-Ministro:
“…Queremos fazer de Cabo Verde um centro internacional de entretenimento cultural…”. Ibidem. O entretenimento faz parte da vida social de um povo, mas a meu ver é imprescindível encararmos a cultura como uma forma de educar e consciencializar a sociedade.
Só se deve falar em valorização da cultura quando existe realmente uma consciência do quão este é fundamental na vida de uma sociedade. Para que isto aconteça, deve-se primeiramente criar programas e incrementar hábitos culturais no sentido de contribuir para o desenvolvimento de uma política educativa no âmbito cultural. Um exemplo, é a apresentação de programas que aproximem as crianças dos livros, se pensarmos que os projectos culturais de base devem começar por serem direccionados às camadas infanto-juvenis.
Em relação aos festivais e feiras propostos pelo Sr. Primeiro-Ministro, penso que deve haver actividades deste género para fugir à rotina anual dos já conhecidos festivais municipais: (Baia das Gatas, Gamboa, Santa Maria, etc.) que por sua vez acarretam um grosso valor do orçamento cultural anual, de cada um desses Municípios. Também é importante que haja programações ao longo do ano, e que não sejam somente para deleito da população em geral (concertos de massa), mas também deveria haver concertos de cariz mais erudito para o público interessado (pequenos concertos).
Em relação ao cinema o primeiro passo a dar, segundo o meu ponto de vista, é a reactivação das diversas salas de cinema espalhadas pelos diferentes pólos do país, sendo que este tipo de cinema (Hollywood) já foi em tempos muitíssimo importante para a educação da nossa sociedade e continuará a sê-lo. O cinema teve e continua a ter um papel fulcral na vida social na medida em que mantém as pessoas informadas sobre novas tendências emergentes no mundo inteiro. E a partir desse modelo, há uma grande hipótese de se criar um núcleo de público que futuramente aderirá a um cinema mais “erudito”, para além da pequena elite já existente. É importante deixar claro que não estou a menosprezar nem a dizer que o formato Hollywood não tenha qualidade. O problema é que com a indústria cinematográfica inerente à Hollywood, muitas vezes os guiões dos filmes produzidos por estes são censurados, fazendo com que o produto final que chega aos ecrãs, não seja totalmente fiel às ideias iniciais. Já o cinema documentário ou o cinema de autor aborda questões de cariz mais erudito, e menos sujeitos à censura.
É importante lembrarmos que, antes de pensar em elaborar qualquer programa cultural, primeiramente deve-se criar uma estratégia de captação, mobilização e educação de público, para que este possa ter audiência. Para exemplificar temos um caso paradigmático: o trabalho de captação de publico desenvolvido pela Mindelact, (Festival Internacional de Teatro), sob a direcção de João Branco, em São Vicente, para que este festival fruísse do publico que tem hoje.
E para que seja possível colocar em prática todo este leque de intenções acima referidas é urgentemente necessário que haja uma programação cultural e programadores culturais capacitados. E para que estes programas se realizem é preciso que haja produtores e técnicos competentes. Acima de tudo, para se realizar um programa cultural é preciso ingredientes, ou seja é necessário material artístico (Musica, Teatro, Dança, Pintura, Cinema, Poesia, etc.). Para haver todo este leque de ingredientes inerentes a uma programação cultural, são necessários criadores e artistas (caso contrário, não passaremos de meros importadores). E para que haja artistas, não é simplesmente necessário haver só o dito talento nato. É necessário um estudo aprofundado do conhecimento artístico para que este talento nato se possa desenvolver, e para que o artista possa ganhar a consciência da sua linguagem artística. Para que se consiga ser criador, produtor, programador, técnico etc. Estes últimos carecem do factor estudo no sentido lato da palavra. É preciso frequentar escolas onde haja uma formação teórica e pratica do que se pretende fazer ou estudar, assim como se faz nas outras áreas (Medicina, Engenharia, Economia, entre outros.). É imprescindível pesquisar, conhecer, e interagir com outros profissionais da área. Mas para que tudo isso se possa tornar realidade é fundamental uma consciencialização, a qual se deve iniciar nas escolas (Primárias e Secundárias).
O apoio é um outro factor essencial para que as coisas possam passar de um plano ideológico para um plano prático. Não me refiro só ao apoio financeiro, mas também a outros tipos de apoios que os dirigentes do nosso estado possam empenhar para que os desejos se cumpram, nomeadamente protocolos entre universidades e entidades culturais no exterior, para facilitar a entrada dos jovens estudantes para estas instituições e a restante população de diferentes faixas etárias.
Mesmo que haja pessoas capazes de exercer todo esse leque de funções, é necessário financiamento, porque na ausência de qualquer capital, os projectos não passam de ideias mortas. Todo o projecto artístico e cultural comporta um custo. Se as entidades competentes não estiverem aptas para colaborar neste aspecto, tudo tornar-se-á difícil. E é claro que não me refiro aqui só ao financiamento do Ministério da Cultura, mas também falo em subsídios por parte dos privados, sendo que o consumo e o deleito artístico é um bem comum.
Deve-se desenvolver políticas de mecenato cultural para incentivar os particulares a apoiar os artistas e os projectos culturais.


Delgado Ferreira

Tchon di Kauberdi

Do conteúdo de Verdade, enformando o Magistério
E a Prática teatral respectiva do Grupo Cénico
TCHON DI KAUBERDI:

Para BRECHT, toda a dramaturgia não aristotélica é experimental.
"En effet, sans aller jusqu’à ce degré de dilution de la Notion, on peut dire que l’expérimentation, au théâtre, concerne tout ou partie de l’activité dramatique, du Texte en passant par l’Architecture et la Scénographie, les Sons et les Rythmes, le Costume et la Gestuelle, ou encore l’Électronique.
D’autre part, si l’expérimentation s’intéresse au tout de l’activité dramatique, elle tend naturellement à réaliser, non des produits cohérents et finis, mais des propositions suffisamment élaborées pour être présentées à un public de juges et de connaisseurs, suffisamment renouvelées et remise en question aussi pour que les expériences s’enchaînent dans une sorte de développement dialectique. (…).
Enfin, mais quelles qu’elles soient toutes les tentatives de théâtre expérimental travaillent sur une exploration et un renouvellement des pouvoirs de l’espace et du temps, sur la fascination de l’image et l’exaltation du corps, en conjuguant ou non ces trois tendances
."

(1) O termo, Teatro experimental, designa, antes uma atitude de crítica e ruptura, não só, ante à ordem teatral pré-estabelecida, normalmente centrada numa lógica burguesa (comercial e mercantil, ipso facto), de um teatro com repertório fixo, clássico e de fácil “compreensão” para as massas, outrossim, demais designadamente à ordem social e ideológica que servia de base e esteio a tal teatro. Deste modo et pour cause, Teatro Experimental pode ser outrossim e, ainda, definido como Teatro de vanguarda, Teatro laboratório, Teatro de pesquisa e de Investigação ou Teatro moderno, na genuína acepção da expressão, obviamente.
(2) Com efeito, de consignar avisadamente, que a partir do século XIX, passando pelos movimentos de vanguarda dos anos vinte do século XX pretérito, pelos inovadores franceses, designadamente, o actor, escritor e encenador Antonin ARTAUT (1896-1948) e o actor/encenador Jacques COPEAU (1879-1949) e, sem olvidar, obviamente os realistas críticos como, nomeadamente os dramaturgos/encenadores alemães, Erwin PISCATOR (1893-1966) e Bertolt BRECHT (1898-1956) e, outrossim e, ainda, por uma constelação, quase interminável, de grupos experimentais que surgem no contexto do pós-guerra (sobretudo à partir dos anos 60 e 70 do mesmo século XX passado), o Teatro Experimental instalou-se no panorama teatral mundial, outorgando voz a uma necessidade que serve uma realidade contemporânea pós-moderna, como tal auto-reflexiva, crítica, eclética e alternativa.
(3) Envidando, pedagogicamente encontrar alguns pontos de contacto e conexão respectiva, entre todos os movimentos, ora enunciados, três grandes atitudes distintas (muitas vezes interligadas), atitudes que ajudam, aliás, a explicar a origem do Teatro Experimental merecem, ipso facto, não só, ser conhecidas, como sobretudo estudadas apropriadamente. Ou seja:
a. Uma atitude técnica e estética inovadoras;
b. Uma atitude ideológica, social e ética;
c. E, enfim, uma atitude auto-reflexiva.
Explicitando, apropriadamente, de feito, tendo presentes as inovações (na iluminação, nos espaços arquitectónicos e nos diversos materiais a utilizar) que constituem uma constante ao longo de todo o século XX e agora, já em pleno século XXI, o teatro principia a experimentar, com toda a eficácia possível, as potencialidades que estas inovações oferecem, em substância.
Por outro, para além do trabalho do texto, emerge a figura do encenador, do director de actores, dos técnicos, passando, deste modo, o espaço teatral a explorar novas linguagens e a constituir, outrossim um espaço inovado, já que tenta voltar a impressionar os sentidos através do artifício.
Palcos móveis, cadeiras que se podem remover, número infinito de luzes e som muitas vezes ofuscam, outrossim a autêntica essência do texto, já que, se estas inovações não tiverem um propósito consentâneo, não passam de artifícios vazios e infecundos, obviamente. Eis porque, COPEAU lucidamente critica todos aqueles “inovadores”, que apenas experimentaram, uma perspectiva técnica, perspectiva essa desprovida, porém de sentido dramático e, evidentemente sem objectivos concretos para além da impressão imediata. E segundo o próprio COPEAU, estes autores ficaram a meio do que devia ter sido o seu percurso teatral.
(4) Outras das facetas relevantes do Teatro Experimental diz respeito a sua função eminentemente pedagógica, social, moral e ética. De feito, enquanto assunção cultural e artística de rechaço à ordem estabelecida (assaz vetusta e decadente), o Teatro Experimental ganha, muitas vezes, contornos de teatro de repto, modificando, não só, as temáticas a apresentar, numa atitude de crítica social (positiva), bem como as estratégias dramáticas a utilizar, pois as prístinas serviam outrossim a sociedade, onde vinham exercendo o seu magistério crítico, com elevado sentido de responsabilidade. Deste modo e, nesta dinâmica, se diligencia assertiva e assumidamente, que o Teatro (vida feita Arte), não só, desperte para novas temáticas, como outrossim, que as suas linguagens mudem, para melhor reflectirem as suas mensagens, muitas vezes de ruptura (na acepção pertinentemente didáctica), face ao poder em vigor.
(5) Estamos, neste particular a pensar, concretamente, nas históricas propostas teatrais oriundas do fecundo magistério de PISCATOR (Teatro proletário), bem como as de BRECHT (Teatro épico). Ambas tentam chamar à atenção do Público para uma classe humilhada, marginalizada política e socialmente e, para a necessidade imperiosa de uma démarche conducente à uma radical mudança no status quo. Nesta dinâmica, as técnicas teatrais rompem outrossim com as convenções estabelecidas. Os heróis trágicos clássicos, de estatuto social elevado, são substituídos por heróis que representam grupos sociais humilhados, muitas vezes, sem nome, pois o indivíduo dava lugar a um esforço colectivo. De feito, este teatro denominado de “engagement” e, que visava a edificação de uma nova ordem mundial conducente, ipso facto, ao modelo de sociedade, privilegiando o Ser em detrimento do ter, dispunha de novas técnicas e uso de materiais, que servissem adequadamente para o efeito almejado e, outrossim melhor espelhassem a Mensagem a transmitir, sob o signo e imperativo, eminentemente didáctico-pedagógico, designadamente a utilização de áudio visuais e linguagens por vezes, um tanto ou quanto, jornalísticas.
(6) Finalmente, de consignar, com ênfase, o caris auto-reflexivo, outrossim presente no Magistério de actuação do Teatro Experimental. De feito, aliás, como a própria designação indica, experimental remete-nos para a experiência e tentativa. Deste modo, este tipo de teatro outorga grande importância ao próprio processo teatral, em si, obviamente. Eis porque, no âmbito desta dinâmica, uma peça é escrita, re-escrita, re-interpretada, discutida, modificada, trabalhada dialecticamente entre encenador, actores e público. Na verdade, uma peça, para muitos grupos teatrais jamais está terminada, chegando, por vezes, ao ponto de constituir apenas um exercício de especulação pluri significativa (aparentemente). Por outro lado, os próprios textos, muitas vezes, abordam problemáticas teatrais, procurando o lugar e essência do teatro na realidade e da realidade no teatro. Entramos, assim, já no domínio do metateatro, ou seja do teatro que tem como objecto de criação, o próprio processo teatral, desconstruindo e desmascarando o seu universo fictício e artificial. Donde e daí, evidentemente, Teatro se mistura, desta forma, com a realidade, desafiando, em última análise, a própria definição e conceito de Teatro.
(7) Enfim e, em suma, como remate consentâneo, podemos e devemos asseverar que o Teatro Experimental assumirá sempre, no âmbito da sua pragmática existencial efectiva, como uma autêntica e verdadeira voz de Liberdade plena contra qualquer ordem nefanda estabelecida, ou um qualquer preconceito. Sim, efectivamente estamos ante um Teatro que dá voz ao outro, que explora os domínios inter- e multi-culturais, que baseia a sua prática na inovação e reciclagem constantes, que abarca e recria técnicas vetustas e modernas, como sendo o filme, a televisão, a dança, a pintura, o circo, a literatura, a música, a informática, a expressão corporal. Eis porque, efectiva e evidentemente, nasce e renasce, com potencialidades, cada vez mais ilimitadas, num elevado e verídico crescendo artístico e estético, culminando, destarte, numa assunção dialecticamente consequente.

Lisboa, 07 Março 2009
KWAME KONDÉ

quarta-feira, 4 de março de 2009

Esperanto

Etimologicamente, o lexema/vocábulo Esperanto busca, fundo, a sua origem, no pseudónimo Esperanto (à letra “o que espera”) usado por Ludwig Lazarus ZAMENHOF, natural de Varsóvia. Mais concretamente: trata-se, efectivamente de lexema oriundo do radical esper (latim: sper-de sperãre+ant). De acrescentar, outrossim e ainda, que o vocábulo foi, durante muito tempo, o pseudónimo do criador da Língua em questão.

Esperanto: N. m. (de esperi, “celui qui espère”, pseudonyme de ZAMENHOF).
Espérantisme : Mouvement en faveur de la propagation de l’Espéranto.
Espérantiste : adjectif et nom.

Es. per anto :
An artificial language invented in 1887 as a means of international communication, based on the main European languages but with easy grammar and pronunciation.

O Esperanto é uma língua internacional, artificial, inventada no ano de 1887 pelo médico polaco Lazarus Ludwig ZAMENHOF (1859-1917).
A sua Gramática é bastante simplificada e o seu Vocabulário respectivo funda-se nalgumas raízes comuns a várias línguas Europeias, tiradas principalmente do Grego e do Latim. E, a partir destes radicais, desinências fixas exprimem o valor das palavras. Deste modo, temos então, que o o final indica que se trata de um substantivo, o a que se trata de um adjectivo, o e de um advérbio, o j de um plural.
Enfim e, em suma: Tendo em conta, a sua regularidade da estrutura e pela simplicidade óbvia é reputada como a mais perfeita das chamadas línguas internacionais.

Esperantista: N/m/f: pessoa que se dedica ao ensino ou a aprendizagem do Esperanto.

Lisboa, 03 Fevereiro 2009
KWAME KONDÉ

terça-feira, 3 de março de 2009

Ainda sobre o Dia Internacional da Língua Materna

Em complemento oportuno da nossa “posta” anterior, vamos apresentar, nesta nossa “posta” de hoje, a Mensagem Internacional do Dia Internacional da Língua Materna da autoria do Director-Geral da UNESCO, o Senhor Koichiro MATSUURA, na sua versão original (em francês), na versão portuguesa (versão criada por K. KONDÉ) e na versão cabo-verdiana (versão, outrossim da lavra de KWAME KONDÉ).

JOURNÉE INTERNATIONALE DE LA LANGUE MATERNELLE
A l’issue des douze mois consacrés aux célébrations de l’Année internationale des langues, cette nouvelle édition de la Journée internationale de la langue maternelle du 21 février 2009 permet d’entamer une nouvelle phase de réflexion et de bilan.
Dix ans après la proclamation de la journée par la Conférence générale de l’UNESCO sur proposition du Bangladesh, quel bilan tirer ?
Un constat s’impose. Après avoir mis l’accent sur la reconnaissance par chaque communauté de l’importance de sa propre langue maternelle, la Journée a progressivement suscité l’attention de la communauté internationale sur les fondements de la diversité linguistique et du multilinguisme. En outre, il est devenu patent que les langues, constitutives de l’identité des individus et des peuples, sont un élément central pour atteindre les objectifs de l’Education pour tous et ceux du Millénaire pour le développement.
Un nombre croissant et de plus en plus diversifié d’acteurs, issus d’organisations gouvernementales et de la société civile, reconnaissent que les langues se situent au cœur de toutes les manifestations de notre vie sociale, économique et culturelle. Les liens entre éducation multilingue (associant langue maternelle, langue nationale et langue internationale), Education pour tous, et objectifs du Millénaire pour le développement, constituent désormais des piliers de toute stratégie au service du développement durable.
Nous avons le vif espoir que sous l’impulsion de la campagne de communication conduite par l’UNESCO lors de l’Année internationale des langues 2008, des résultats concrets en faveur de l’usage des langues maternelles comme du multilinguisme se feront jour, et que ces enjeux resteront au cœur de l’action des gouvernements et des agences de coopération.
Au-delà de l’intérêt suscité par l’Année et des centaines de projets de promotion des langues lancés en 2008, une évaluation de l’impact de l’Année internationale des langues sera conduite dans les prochains mois pour mesurer l’importance des langues pour le développement, la paix et la cohésion sociale.
Dans ce contexte, à l’occasion de la dixième édition de la Journée internationale de la langue maternelle, je lance un appel pour que les nombreuses déclarations et initiatives annoncées au cours de 2008 soient suivies de mesures concrètes et durables.
Je formule le vœu, en particulier, que les gouvernements mettent en place, dans le cadre de leurs systèmes éducatifs formels et non formels et au sein des administrations, mesures visant à assurer la coexistence harmonieuse et fructueuse des langues de chaque pays. C’est ainsi que nous saurons préserver et promouvoir des environnements multilingues soucieux du respect de toutes les expressions de la diversité culturelle.

KOICHIRO MATSUURA

MENSAGEM DO DIA INTERNACIONAL DA LÍNGUA MATERNA
versão portuguesa da lavra de KWAME KONDÉ:

No término dos doze meses consagrados às comemorações do Ano Internacional das línguas, esta nova edição do Dia Internacional da Língua Materna de 21 Fevereiro 2009 permite entabular uma nova fase de reflexão e de balanço.
Dez anos após a proclamação do Dia pela Conferência geral da UNESCO sobre proposta de Bangladesh, que balanço extrair?
Uma verificação autenticada se impõe. Após ter colocado o acento tónico no conhecimento por cada Comunidade da importância da sua própria língua materna, o Dia suscitou progressivamente à atenção da Comunidade Internacional acerca dos fundamentos da diversidade linguística e do multilinguismo. Além disso, tornou patente que as línguas, constitutivas da identidade dos indivíduos e dos povos, constituem um elemento central para atingir os objectivos da Educação para todos e os do Milenário para o desenvolvimento.
Um número crescente e, cada vez mais, diversificado de actores, oriundos de organizações governamentais e da sociedade civil, reconhecem que as línguas se situam no cerne de todas as manifestações da nossa vida social, económica e cultural. Os vínculos entre educação multilingue (associando língua materna, língua nacional e língua internacional), Educação para todos e, objectivos do Milenário para o desenvolvimento, constituem doravante pilares de toda estratégia ao serviço do desenvolvimento sustentável.
Temos a viva esperança que sob a impulsão da campanha de comunicação conduzida pela UNESCO aquando do Ano Internacional das línguas em 2008, resultados concretos a favor do uso das línguas maternas como do multilinguismo evidenciar-se-ão e, que estes desafios permanecerão no centro da acção dos governos e das agências de cooperação.
Para além do interesse suscitado pelo Ano e das centenas de projectos de promoção das línguas lançados em 2008, uma avaliação do impacto do Ano Internacional das línguas será conduzida nos próximos meses para medir a importância das línguas para o desenvolvimento, a paz e a coesão social.
Neste contexto, a propósito da décima edição do Dia Internacional da Língua Materna, lanço um apelo para que as numerosas declarações e iniciativas anunciadas no decurso de 2008 sejam seguidas de medidas concretas e duradouras.
Formulo, em particular, o voto para que os governos implantem, no quadro dos seus sistemas educativos formais e não formais e, no seio das administrações, medidas, visando assegurar a coexistência harmoniosa e frutuosa das línguas de cada país. É, deste modo, que poderemos preservar e promover ambientes multilingues, preocupados pelo respeito de todas as expressões da diversidade cultural.


MENSAJI di DIA INTERNASIONAL di LINGUA MATERNU:
Verson Kauberdianu fetu pa Kwame KONDÉ

Na fin di duzi mes didikadu na salabrason d’Anu Internasional di Línguas, es nobu idison di Dia Internasional di Língua Maternu di 21 di Febreru di 2009 ta pirmiti kria un nobu mumentu di rafletison y di balansu.
Des Anus odipos di pruklamason di Dia pa kunferensa jeral d’UNESCO sobri pruposta di BANGLADESHI, ki balansu nu debi tra?
Un fatu e sertu. Dispôs di ter kalokadu asentu na kunhisimentu pa kada kumunidadi d’npurtansia di si propri língua maternu, Dia ten manenti tchomadu tenson di kumunidadi internasional serka di bazi di diversidadi linguistiku y di multillinguismu. Len disu, torna klaru ki línguas, alisersu d’identidadi d’individu y di pobus, e un ilimentu sentral p’aikansa prupostus d’Idukason pa tudu mundu y kes di Milennário pa dizinvolvimentu.
Un nunbru kirsedu y kada bes mas, diversifikadu d’atoris, bindus d’organizasons gubernamental di sosiadadi sibil, ta rakonxe ki línguas ta situa na sentru di tudu manifestason di nos bida sosial, ikunomika y kultural. Ligason entri Idukason multilingui (djuntu língua maternu, língua nasional y língua internasional), Idukason pa tudu Mundu y prupostu di Milénio pa dizinvolvimentu sustentável.
Nu ten speransa bibu ki dibaxu inpulson di kanpanha di kumunikason kunduzidu pa UNESCO kandu d’Anu Internasional di línguas 2008, razultadus konkretus afabor d’uzu di línguas y, ki es dizafiu-li ta fika na sentru d’ason di gubernus y d’ajensias di kuperason.
P’alen di nteresi labantadu p’Anu y sentenas di prujetus di ptumuson di linguas lansadu n 2008, un balansu d’inpaktu d’Anu Internasional di lenguas ta ba ser kunduzidu na prosimu mês pa midi inpurtansa di linguas pa dizinvolvimentu, pa pas y kueson susial.
Nes kondison-li, p’okasion di desimu idison di Dia Internasional di Lingua Maternu, nu ta lansa un pididu pa ki kes tchada di diklarasons y inisiasons nutisiadu na korida di 2008 for sigidu di mididas kunkretu y ki ta dura tcheu tenpu.
Hn ta fase votu, in partikular, ki Gubernus ta plania, na kuadru di si sistemas idukativu klaru y non klaru y, na meiu di dimistrasons, mididas pa sugura kunvivensa dretu y di purbetu di linguas di kada País. So asin, nu ta podi konserba y kria nbientis multilingui, prokupadu pa ruspetu di tudu spreson di diversidadi kultural.

Lisboa, 21 Fevereiro 2009
KWAME KONDÉ

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Dia Internacional da Língua Materna - 21 de Fevereiro

O Dia Internacional da Língua Materna, proclamado pela Conferência Geral da UNESCO, em Novembro do ano de 1999, se comemora, anualmente, desde Fevereiro 2000 afim de promover a diversidade linguística e cultural, do mesmo modo que, o Multilinguismo.
De anotar, que este Evento cultural, busca fundo, a sua origem respectiva, no “Language Movement Day”, comemorado em Bangladesh desde 1952.
Por outro, esta décima Edição do Dia Internacional da Língua Materna, a ter lugar na data de 21 Fevereiro 2009, constitui, outrossim e, ainda, o ensejo para lembrar aos Estados-membros o objectivo desta comemoração: o reconhecimento da diversidade linguística e a importância respectiva de uma Educação multilingue.

Com efeito, as línguas constituem os instrumentos mais poderosos para preservar e desenvolver o Património material e imaterial. Donde e daí, que tudo o que for feito para promover a difusão das línguas maternas servirá, não só, unicamente, para encorajar a diversidade linguística e a educação multilingue, outrossim, porém, para sensibilizar mais (em maior número, mais tempo) no atinente às tradições linguísticas e culturais do Mundo inteiro e para inspirar uma Solidariedade edificada na compreensão, na tolerância e no diálogo.

E, precisando, consentânea e apropriadamente as nossa ideias, temos então que:
(A) No ano de 1999, a Conferência Geral da UNESCO adoptou a Resolução 37, recomendando medidas para a promoção do multilinguismo, inclusive, promovendo um acesso universal ao cyberespace e o multiculturalismo nas redes de informação mundiais. Enfim, vale a pena consignar, que foi no ano de 2000, que, pela primeira vez, se celebrou o Dia Internacional da Língua Materna.

Efectivamente, no ano de 1999, a 21 de Fevereiro foi declarado Dia Internacional da Língua Materna pela UNESCO. Na verdade, neste mesmo dia, em 1952, cinco (5) estudantes de Dacca deram as suas vidas, no desígnio que o Bangla fosse eleito e declarado Idioma oficial no que era, então, na época, o Paquistão Este e, que, ulteriormente tornou Bangladesh após a Guerra de Libertação.

Deste modo, numa mensagem lida no decurso da cerimónia da primeira manifestação, o Secretário-Geral das Nações Unidas, de então, Kofi ANNAN trouxe o seu apoio ao Dia Internacional da Língua Materna, tendo asseverado que se impõe, mais que nunca, incutir no Espírito de todos os Povos a força do valor das Línguas.
Reafirmando a enorme responsabilidade, que se impende sobre todos, sem excepção, na preservação da diversidade das línguas, Kofi ANNAN apelou para que todos envidassem esforços acrescidos, visando preservar as línguas, enquanto Património partilhado da Humanidade.

Não deixa de se nos afigurar pertinente, informar, no âmbito da História dos Dias Internacionais da Língua Materna, o seguinte:
--- As Celebrações do Dia Internacional da Língua Materna, nos anos 2000, 2001 e 2003, respectivamente constituíram uma óbvia ocasião para discursos e permutas de ideias conduzidos por universitários, linguistas, funcionários, associações culturais e demais outros representantes de Estados membros, sobre Temas da Cultura, da Educação e das Línguas. Identicamente, através do Mundo, numerosas actividades locais culturais tiveram lugar, designadamente a Leitura de Poesia nas escolas, exposições e exibição de peças de teatro. Outrossim e, ainda, programas de rádio e televisão produzidos por médias locais e nacionais foram emitidos e exibidos.

A Comemoração do Dia Internacional da Língua Materna se encontra na primeira fila dos esforços da Organização, visando uma promoção eficaz da diversidade linguística e da Educação multilingue. Demais, vale a pena atentar avisadamente, nos termos em que se exprimiu o Senhor Kochino Matsuura, actual Director-geral da UNESCO, aquando do Dia Internacional da Língua Materna, na data de 21 Fevereiro 2002. Ou seja : “Aujourd’hui plus que jamais, recherchons la compréhension, et la reconnaissance des autres peuples et des autres cultures en respectant leurs langues et les modes de pensée que s’expriment à travers elles."

Enfim e, um tanto ou quanto, em jeito de remate oportuno, efectivamente:
--- Uma Cultura de Paz só se pode construir num espaço, onde toda gente tem o direito de utilizar a sua Língua Materna, plena e livremente, em todas as diferentes circunstâncias da vida.

O Instituto Internacional do Teatro (IIT) apoia a Resolução da UNESCO que afirma que o reconhecimento e o respeito para com a diversidade cultural no domínio da linguagem inspiram uma solidariedade baseada na compreensão, na tolerância e no diálogo. Eis porque, obviamente toda acção que favorece a utilização das línguas maternas serve, não unicamente, para encorajar a diversidade linguística e a Educação multilingue, outrossim nos sensibiliza mais para a multiplicidade das tradições linguísticas e culturais no Mundo.
Demais, pela via da Resolução enunciada que foi adoptada pelo seu vigésimo oitavo Congresso, “”Utopia 2000”realizado em Marseille (França), em Maio de 2000, o Instituto Internacional do Teatro se associa à UNESCO para comemorar e celebrar o Dia Internacional da Língua Materna.

Finalmente:
O Dia Internacional da Língua Materna constitui uma oportunidade para as pessoas do Teatro do Mundo inteiro, fazer compartilhar o carácter único de cada cultura, cujo o idioma é o vector. Os vocábulos, a língua assumem, outrossim, um papel chave no mundo do teatro.
Além disso, enquanto defensor dos direitos culturais de cada povo e da manutenção de uma universalidade, passando pela diversidade cultural, o IIT considera o Dia Internacional da Língua Materna como uma maravilhosa ocasião de cumprir este nobre objectivo e lança um apelo às comunidades teatrais através do Mundo para se associar a este Dia, tal como foi declarada pela UNESCO.
Com efeito, evidentemente, se as Línguas nacionais estão ameaçadas de extinção, são, ipso facto, os teatros nacionais que se encontram ameaçados. Donde, o IIT acredita sinceramente que o Teatro pode desempenhar um papel importante na preservação dos direitos das Línguas Maternas.

Lisboa, 20 Fevereiro 2009
KWAME KONDÉ