(1) De feito, na verdade, foi na Cidade de Viena (Áustria), no remoto ano da Graça de 1961, que, no decurso do 9º Congresso Mundial do Instituto Internacional do Teatro (IIT), por proposta do finlandês Kaarlo Arvi KIVIMAA (n-1904), feita em nome do Centro Finlandês, foi, então, instituído o DIA MUNDIAL DO TEATRO. E, já lá vão precisamente, 48 anos e, no âmbito do Calendário dos Dias Mundiais do Teatro este de 2009 é o QUADRAGÉSIMO SÉTIMO.
(2) Deste modo, desde o ano de 1962, anualmente, a 27 de Março (data da abertura da estação 1962 do Teatro das Nações, em Paris) o Dia Mundial do Teatro é comemorado pelos Centros Nacionais do IIT existentes presentemente, numa centena de Países do Mundo, assim como, por demais outros membros da Comunidade Teatral Internacional.
(3) Por seu turno, o Instituto Internacional do Teatro (IIT), criado em 1948, numa louvável e histórica iniciativa da UNESCO e de Personalidades ilustres no domínio do Teatro é, com efeito, assumidamente, a mais importante organização não governamental, no âmbito das Artes da Cena, possuindo robustas conexões formais (relações de consulta e de associação) junto da UNESCO. O IIT procura "à encourager les échanges internationaux dans le domaine de la connaissance et de la pratique des Arts de la Scène, stimuler la création et élargir la coopération entre les gens de Théâtre, sensibiliser l’opinion publique à la prise en considération de la création artistique dans le domaine du Développement, approfondir la compréhension mutuelle afin de participer au renforcement de la Paix et de l’Amitié entre les peuples, s’associer à la défense des idéaux et des buts définis par l’UNESCO".
(4) De anotar, ainda que as manifestações que assinalam o DIA MUNDIAL DO TEATRO permitem concretizar os objectivos, acima enunciados. Eis porque, anualmente, uma Personalidade do mundo do Teatro ou uma outra individualidade conhecida pelas suas qualidades de “coeur” e de espírito é convidada a partilhar as suas reflexões acerca do tema do Teatro e da Paz entre os povos. Esta Mensagem denominada MENSAGEM INTERNACIONAL é traduzida numa vintena de idiomas. E, outrossim, será lida perante dezenas de milhares de espectadores antes da representação da noite nos teatros, pelo Mundo inteiro, impresso em centenas de quotidianos e difundida pela rádio e televisão nos cinco (5) Continentes. Vem, mesmo a propósito e, um tanto ou quanto, a talhe de foice, elucidar que a primeira Mensagem Internacional produzida, para os devidos efeitos, no longínquo ano de 1962, foi da autoria e lavra do insigne poeta, romancista, dramaturgo, coreógrafo, pintor e cineasta francês, Jean COCTEAU (1889-1963).
(5) Enfim e, em suma: O Teatro congrega, de modo dialecticamente eloquente e, por sua vez, o DIA MUNDIAL DO TEATRO é a celebração efectiva desta egrégia vontade. Constitui, outrossim e, ainda, um excelente ensejo e uma oportunidade respectiva, para os Artistas da Cena partilhar com o seu público uma determinada visão da sua Arte e a forma, por meio da qual esta Arte pode contribuir para a compreensão humana e para a Paz entre os povos. Finalmente, de consignar, que à difusão mundial da MENSAGEM INTERNACIONAL, se vem vincular numerosos eventos, desde manifestação, mais íntima, até à Grande Celebração Popular.
Posto tudo isto, vamos então, apresentar a MENSAGEM INTERNACIONAL redigida especialmente para o Dia Mundial do Teatro deste Ano de 2009, em curso, da autoria e lavra de Augusto BOAL, director teatral brasileiro, de renome mundial e inventor do “Teatro do Oprimido”.
Apresentaremos, nesta nossa “posta”, a dita Mensagem em duas versões, designadamente, no Idioma brasileiro (a versão original) e em inglês.
(2) Deste modo, desde o ano de 1962, anualmente, a 27 de Março (data da abertura da estação 1962 do Teatro das Nações, em Paris) o Dia Mundial do Teatro é comemorado pelos Centros Nacionais do IIT existentes presentemente, numa centena de Países do Mundo, assim como, por demais outros membros da Comunidade Teatral Internacional.
(3) Por seu turno, o Instituto Internacional do Teatro (IIT), criado em 1948, numa louvável e histórica iniciativa da UNESCO e de Personalidades ilustres no domínio do Teatro é, com efeito, assumidamente, a mais importante organização não governamental, no âmbito das Artes da Cena, possuindo robustas conexões formais (relações de consulta e de associação) junto da UNESCO. O IIT procura "à encourager les échanges internationaux dans le domaine de la connaissance et de la pratique des Arts de la Scène, stimuler la création et élargir la coopération entre les gens de Théâtre, sensibiliser l’opinion publique à la prise en considération de la création artistique dans le domaine du Développement, approfondir la compréhension mutuelle afin de participer au renforcement de la Paix et de l’Amitié entre les peuples, s’associer à la défense des idéaux et des buts définis par l’UNESCO".
(4) De anotar, ainda que as manifestações que assinalam o DIA MUNDIAL DO TEATRO permitem concretizar os objectivos, acima enunciados. Eis porque, anualmente, uma Personalidade do mundo do Teatro ou uma outra individualidade conhecida pelas suas qualidades de “coeur” e de espírito é convidada a partilhar as suas reflexões acerca do tema do Teatro e da Paz entre os povos. Esta Mensagem denominada MENSAGEM INTERNACIONAL é traduzida numa vintena de idiomas. E, outrossim, será lida perante dezenas de milhares de espectadores antes da representação da noite nos teatros, pelo Mundo inteiro, impresso em centenas de quotidianos e difundida pela rádio e televisão nos cinco (5) Continentes. Vem, mesmo a propósito e, um tanto ou quanto, a talhe de foice, elucidar que a primeira Mensagem Internacional produzida, para os devidos efeitos, no longínquo ano de 1962, foi da autoria e lavra do insigne poeta, romancista, dramaturgo, coreógrafo, pintor e cineasta francês, Jean COCTEAU (1889-1963).
(5) Enfim e, em suma: O Teatro congrega, de modo dialecticamente eloquente e, por sua vez, o DIA MUNDIAL DO TEATRO é a celebração efectiva desta egrégia vontade. Constitui, outrossim e, ainda, um excelente ensejo e uma oportunidade respectiva, para os Artistas da Cena partilhar com o seu público uma determinada visão da sua Arte e a forma, por meio da qual esta Arte pode contribuir para a compreensão humana e para a Paz entre os povos. Finalmente, de consignar, que à difusão mundial da MENSAGEM INTERNACIONAL, se vem vincular numerosos eventos, desde manifestação, mais íntima, até à Grande Celebração Popular.
Posto tudo isto, vamos então, apresentar a MENSAGEM INTERNACIONAL redigida especialmente para o Dia Mundial do Teatro deste Ano de 2009, em curso, da autoria e lavra de Augusto BOAL, director teatral brasileiro, de renome mundial e inventor do “Teatro do Oprimido”.
Apresentaremos, nesta nossa “posta”, a dita Mensagem em duas versões, designadamente, no Idioma brasileiro (a versão original) e em inglês.
(I)
Teatro não pode ser apenas um evento – é forma de vida! Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto das ideias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!
Não só casamentos e funerais são espectáculos, mas também os rituais cotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião diplomática – tudo é teatro.
Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espectáculos da vida diária onde os atores são os próprios espectadores, o palco é a plateia e a plateia, o palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver, tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida cotidiana.
Verdade escondida
Em Setembro do ano passado fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver em um mundo seguro, apesar das guerras, genocídios, hecatombes e torturas que aconteciam, sim, mas longe de nós, em países distantes e selvagens, nós vivíamos seguros com nosso dinheiro guardado em um banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da bolsa quando fomos informados de que esse dinheiro não existia, era virtual, feia ficção de alguns economistas que não eram ficção, nem eram seguros, nem respeitáveis. Tudo não passava de mau teatro com triste enredo, onde poucos ganhavam muito e muitos perdiam tudo. Políticos dos países ricos fecharam-se em reuniões secretas e de lá saíram com soluções mágicas. Nós, vítimas de suas decisões, continuamos espectadores sentados na última fila das galerias.
Vinte anos atrás, eu dirigi Fedra de Racine, no Rio de Janeiro. O cenário era pobre: no chão, peles de vaca; em volta, bambus. Antes de começar o espectáculo, eu dizia aos meus atores: “Agora acabou a ficção que fazemos no dia-a-dia. Quando cruzarem esses bambus, lá no palco, nenhum de vocês tem o direito de mentir. Teatro é a Verdade Escondida”.
Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, géneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com as nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.
Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!
Não só casamentos e funerais são espectáculos, mas também os rituais cotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião diplomática – tudo é teatro.
Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espectáculos da vida diária onde os atores são os próprios espectadores, o palco é a plateia e a plateia, o palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver, tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida cotidiana.
Verdade escondida
Em Setembro do ano passado fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver em um mundo seguro, apesar das guerras, genocídios, hecatombes e torturas que aconteciam, sim, mas longe de nós, em países distantes e selvagens, nós vivíamos seguros com nosso dinheiro guardado em um banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da bolsa quando fomos informados de que esse dinheiro não existia, era virtual, feia ficção de alguns economistas que não eram ficção, nem eram seguros, nem respeitáveis. Tudo não passava de mau teatro com triste enredo, onde poucos ganhavam muito e muitos perdiam tudo. Políticos dos países ricos fecharam-se em reuniões secretas e de lá saíram com soluções mágicas. Nós, vítimas de suas decisões, continuamos espectadores sentados na última fila das galerias.
Vinte anos atrás, eu dirigi Fedra de Racine, no Rio de Janeiro. O cenário era pobre: no chão, peles de vaca; em volta, bambus. Antes de começar o espectáculo, eu dizia aos meus atores: “Agora acabou a ficção que fazemos no dia-a-dia. Quando cruzarem esses bambus, lá no palco, nenhum de vocês tem o direito de mentir. Teatro é a Verdade Escondida”.
Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, géneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com as nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.
Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!
Augusto Boal
(II)
World Theatre Day Message
Augusto Boal-Message 2009:
All human societies are “spectacular” in their daily life and produce “spectacles” at special moments. They are “spectacular” as a form of social organization and produce “spectacles” like the one you have come to see.
Even if one is unaware of it, human relationships are structured in a theatrical way. The use of space, body language, choice of words and voice modulation, the confrontation of ideas and passions, everything that we demonstrate on the stage, we live in our lives.
We are theatre!
Weddings and funerals are “spectacles”, but so, also, are daily rituals so familiar that are not conscious of this. Occasions of pomp and circumstance, but also the morning coffee, the exchanged good-mornings, timid love and storms of passion, a senate session or a diplomatic meeting – all is theatre.
One of main functions of our art is to make people sensitive to the “spectacles” of daily life in witch the actors are their own spectators, performances in witch the stage and the stalls coincide. We are all artists. By doing theatre, we learn to see what is obvious but what we usually can’t see because we are only used to looking at it. What is familiar to us becomes unseen: doing theatre throws light on the stage of daily life.
Last September, we were surprised by a theatrical revelation: we, who thought that we were living in a safe world, despite wars, genocide, slaughter and torture which certainly exist, but far from us in remote and wild places. We, who were living in security with our money invested in some respectable bank or in some honest trader’s hands in the stock exchange were told that this money did not exist, that it was virtual, a fictitious invention by some economists who were not fictitious at all and neither reliable nor respectable. Everything was just bad theatre, a dark plot in which a few people won a lot and many people lost all. Some politicians from rich countries held secret meetings in which they found some magic solutions. And we, the victims of their decisions, have remained spectators in the last row of the balcony.
Twenty years ago, I staged Racine’s Phèdre in Rio de Janeiro. The stage setting was poor: cow skins on the ground, bamboos around. Before each presentation, I used to say my actors: “The fiction we created day by day is over. When you cross those bamboos, none of you will have the right to lie. Theatre is the Hidden Truth”.
When we look beyond appearances, we see oppressors and oppressed people, in all societies, ethnic groups, genders, social classes and casts; we see an unfair and cruel world. We have to create another world because we know it is possible. But it is up to us to build this other world with our hands and by acting on the stage and in our own life.
Participate in the “spectacle” which is about to begin and once you are back home, with your friends act your own plays and look at what which is obvious.
You were never able to see: that which theatre is not just event; it is a way of life! We are all actors: being a citizen is not living in society, it is changing it.
Augusto Boal
Lisboa, 27 Março 2009.
KWAME KONDÉ
(Intelectual Internacionalista/ Cidadão do Mundo)
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