sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Prosseguindo o Estudo da Noção/Conceito de Cultura:

"Le marxisme, par son universalisme
et son mondialisme, fut en quelque sorte
la seconde vague de l’entrée de l’Orient
intellectuel dans la modernité.
Peut-être le temps est-il venu d’écrire
Et de diffuser un «manifeste mondialiste», un
manifeste mondial des intellectuels,
ou encore un manifeste des intellectuels
mondialistes
.
Ce manifeste commencerait ou se terminerait par
Une phrase du genre : «Intellectuel de
Tous les pays, unissez-vous!»
S’il est vrai qu’un spectre -celui du mondialisme-
Hante la Planète, il faut créer une internationale des intellectuels."
Gérard LECLERC, filósofo francês (n-1943),
in LA MONDIALISATION CULTURELLE.




(1) Com efeito, evidentemente, a Noção de Cultura entendida, lato sensu, remete, por seu turno, para os modos de vida e de pensamento. Posição esta, actualmente, amplamente admitida, mesmo se isso não progride, por vezes, sem determinadas ambiguidades. De anotar, porém, que nem sempre constitui o caso. Demais, por outro, desde que apareceu no século XVIII, a ideia moderna de cultura suscitou, continua e ininterruptamente debates sobremodo vivos e, assaz acesos. De feito, qualquer que seja o sentido preciso que pôde ser outorgado ao vocábulo (aliás, as definições nunca faltaram), discrepâncias sempre subsistiram acerca da sua aplicação a tal ou tal realidade. Na verdade, o uso da noção de cultura introduz directamente na ordem simbólica, no que tange ao sentido, isto é, ao sobre quê é mais difícil de se conhecer e se perceber.
(2) Assumidamente, nada é genuinamente natural no Homem. Inclusive as funções humanas que correspondem a necessidades fisiológicas, como a fome, o sono, o desejo sexual, etc., ipso facto, informadas pela cultura, pois que as sociedades não outorgam exactamente respostas idênticas a estas necessidades. A fortiori, nos domínios, onde não existe constrangimento biológico, os comportamentos são orientados pela cultura. Eis porque, a imposição: “Seja natural”, amiúde prescrita às crianças, em particular nos meios burgueses, significa, na realidade, ou seja: “Seja conforme ao modelo da cultura que te foi transmitida”.
(3) Efectivamente, se todas as populações possuem idêntico stock genético, se diferenciam pelas suas escolhas culturais, cada uma, inventando soluções originais para os problemas que se lhes deparam. Todavia, estas diferenças não são irredutíveis umas às outras, tendo em conta a unidade genética da Humanidade, pois representam aplicações de princípios culturais universais, aplicações susceptíveis de evoluções e, outrossim, de transformações.
(4) Donde e daí, a Noção de Cultura se revela, por conseguinte, o instrumento adequado para terminar com as explicações naturalistas dos comportamentos humanos. Importante consignar, com ênfase: a natureza, no homem, é completamente interpretada pela cultura. Deste modo, as diferenças que poderiam se apresentar, as mais vinculadas a propriedades biológicas particulares, como, por exemplo, a diferença dos sexos, não podem elas mesmas jamais se observar “no estado bruto” (natural) visto que, por assim dizer, a cultura se apoderou disso imediatamente. Sim, efectivamente, a divisão sexual dos papéis e das tarefas nas sociedades humanas resulta fundamentalmente da cultura e, eis porque, varia de uma sociedade para outra.
(5) E, em jeito de remate assertivo, não há dúvida nenhuma, que, na realidade, o Homem é eminentemente um ser de cultura. De feito, o dilatado e longo processo de hominização (processo evolutivo pelo efeito do qual uma descendência de primatas originou a espécie humana), encetado há, aproximadamente, quinze (15) milhões de anos, consistiu fundamentalmente a passar de uma adaptação genética ao ambiente natural, à uma adaptação cultural. Demais, no decurso desta evolução, que culminou no Homo sapiens sapiens, o primeiro Homem, se operou uma formidável regressão dos instintos, “substituídos” progressivamente pela cultura, isto é, por esta adaptação imaginada e controlada pelo homem que se revela muito mais funcional que a adaptação genética, porquanto é, na verdade, muito mais flexível e maleável, consequentemente mais fácil e, mais rapidamente transmissível. Eis porque, no fundo, no fundo, a Cultura permite ao Homem, não unicamente, se adaptar ao seu meio, outrossim, porém, adaptar a si próprio, às suas necessidades e aos seus projectos, para melhor dizer e, por outras palavras, a Cultura torna possível a transformação da Natureza.

Lisboa, 12 Fevereiro 2009
KWAME KONDÉ

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